segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Dezembro Frank Zappa




Bem amigos este foi o nosso Dezembro Frank Zappa, espero que vocês tenham gostado, pois deu um trabalhão. Os discos aqui postados foram selecionados com critério para oferecer o melhor da minha coleção. Eu gostaria de ter postado mais coisas, mas nesse espaço de tempo isso foi o melhor que eu pude fazer.

Grande abraço, feliz ano novo!
WOODY




Dezembro Frank Zappa


Well fellows, that was our Dezembro Frank Zappa and I hope that you´ve enjoyed, because it was a hell work. The albums posted were selected to offer you the best of my collection. I would like to have posted more, but the time was short.

Best Wishes and Happy New Year!!!
WOODY

As Dialéticas Negativas das Habilidades do Poodle






Os textos aqui apresentados sob o título de As Dialéticas Negativas das Habilidades do Poodle são de uma tradução do português Pedro Marques para o livro de Ben Watson - The Negative Dialectics of Poodle Play. Na verdade, o título que ele usou foi Dialécticas Negativas das Habilidades do Caniche, mas como muitos brasileiros não iam entender o que é Caniche, fiz a adaptação do título para o português do Brasil. Esta foi a única alteração que fiz trabalho dele, evitando alterar o original. No entanto, só publiquei algumas partes, pois o trabalho é extenso e complexo, portanto não caberia todo aqui. Mas se você leu e gostou, aproveite para ler o resto, visite o blog Fora de Cena e descubra muito mais sobre este artista genial que foi, e ainda é, Frank Zappa!

Frank Zappa - Project-Object [1978]




Este é um disco que comprei na época do lançamento e que ripei especialmente para este Dezembro Frank Zappa, como o meu equipamento não é dos mais sofisticado vão aparecer alguns estalos e o chiado da agulha, mas a gravação é muito boa (A) e isso não será nenhum estorvo. O LP foi lançado em 1980 trazendo a gravação do show realizado no The Mid Huson Civic Center, de Nova Iorque-EUA, em 1978. É uma produção do selo Mud Shark que imprimiu 3200 cópias. Em 1981 essa gravação foi re-lançada em picture disc com o nome de "Moe's Vacation". Na banda estão FZ, Denny Walley, Ike Willis, Arthur Barrow, Tommy Mars, Peter Wolf, Ed Mann e Vinnie Colaiuta. Um discaço, altamente recomendado!






Frank Zappa - Project-Object


This is a record of The Mid Huson Civic Center show, in New York (1978/09/21), released july 1980 in 3200 pressed by the Mud Shark bootleg label. This LP was re-released in 1981 & again as an import picture disc titled "Moe's Vacation". The line-up was FZ, Denny Walley, Ike Willis, Arthur Barrow, Tommy Mars, Peter Wolf, Ed Mann e Vinnie Colaiuta. The quality of sound is very nice (A). Highly recommendable!







An Evening with ... Frank Zappa & Captain Beefheart [1975]



Este disco é praticamente uma segunda versão do Metal Man Has Hornet's Wings, pois também é um registro do radio show de KWST na Austrália, mas a edição é uma pouco diferente, assim como algumas músicas. As faixas 1, 3, 5, 10-12, 15, 19 & 20 foram oficialmente lançadas nos álbuns Bongo Fury (1975), The Lost Episodes (1996), Mystery Disc (1998) e Captain Beefheart's Trout Mask Replica (1969). Na dúvida, eu recomendo os dois.






An Evening with ... Frank Zappa & Captain Beefheart


This bootleg is similar at the Metal Man Has Hornet's Wings, but it’s a little bit different. The set list is not the same and some musics are different too. Tracks 1, 3, 5, 10-12, 15, 19 & 20 have been officially released on Bongo Fury, The Lost Episodes, Mystery Disc and Captain Beefheart's Trout Mask Replica. If you don’t know how you’ll be to choice. I recommend both.

Frank Zappa - Tiny Is As Tiny Do [2005]



Este disco veio de um blog alemão que eu não lembro o nome, é o registro da apresentação de 17/Set/1984, no Palais Omnisports de Bercy, em Paris. A gravação, realizada da platéia, captou o concerto na íntegra (130 min.) e a qualidade do áudio é surpreendentemente boa: A-. A capa, como de costume nos bootlegs, é bastante simples, mas foi bem trabalhada e é até sofisticada perto da grande maioria dos piratas que rolam por aí. Segundo o nosso desconhecido amigo germânico, o show rolou numa atmosfera genial em Paris, com o Zappa detonando. Um espetáculo de ponta, com solos extraordinários do mestre para sorte daqueles que estavam lá e tiveram a oportunidade vivenciar isso em 1984. Aos que não conseguiram estar presentes, resta o consolo deste bootleg!
Agradecimento especial para Carlos “Carlão” V. Assumpção pela tradução do texto em alemão.







Frank Zappa - Tiny Is As Tiny Do

Der nächste Zappa-Bootleg im und aus dem Jahre 2005.
FRANK ZAPPA in Paris, Palais Omnisports de Bercy, 17-Sep. 1984
Geniale Stimmung in Paris, Zappa gutgelaunt "Hoyjaaaaa!!!" ... und dazu ein Spitzenprogramm mit teilweise ungewöhnlichen Soli des Meisters. Glückwunsch dem, der 1984 dabei war und das erleben durfte. (Zappa schien den "Winos" endgültig verziehen zu haben ;-)
Komplettes Konzert auf Doppel-CD.
Sound: A- ... Audience(?)
Die Covergestaltung ist etwas minimalisiert worden, also keine Doppelfaltcover mit mehrfacher Bebilderung mehr. Schade eigentlich, es wurde alles auf das rein Wesentliche beschränkt.
Aber trotz alledem: lieber so als die ausführliche Geschmacklosigkeit einiger MMM-Cover.

Eine Pressung aus Japan. (Keine MMM-Massenware!!!)
Label: GUITAR MASTER - 002/003, Erscheinungsdatum/released April.05
Gesamtlänge: 117:40 min





As Dialéticas Negativas das Habilidades do Poodle #8



FREAK OUT!





A MGM/Verve recusou-se a lançar discos de uma banda cujo nome era evidentemente uma contracção de “motherfuckers”, então os Mothers passaram a chamar-se Mothers of Invention – “por necessidade”, como diz Zappa. O novo nome continha a crítica de Zappa às noções de liberdade, uma recusa materialista do idealismo que percorre todo o seu trabalho como uma sombra negra. Arnold Schoenberg afirmou: “A arte não nasce da habilidade, mas sim da necessidade.”
Os Mothers eram compostos pelos Soul Giants – Collins, Estrada, Black – e o brilhante guitarrista Elliot Ingber que mais tarde apareceu com Captain Beefheart sob o pseudónimo Winged Eeel Fingerling. Baseando-se nos conhecimentos de marketing que possuía, Zappa assegurou que a MGM/Verve não afastava os Mothers of Invention.


Se tivéssemos entregue tudo à editora não tínhamos vendido discos. Eles pensaram que éramos uns excêntricos. Uma novidade-a-go-go. Mas não éramos. Tivemos de lhes mostrar formas de ganhar dinheiro com o nosso produto. Desde o princípio que foi difícil convencê-los daquilo que estávamos a falar. Tivemos de os fazer perceber. Primeiro que tudo, eu quis tomar conta da publicidade. Mais tarde, deram-me grande parte das coisas para fazer.
A MGM não tinha ideia de como fazer publicidade underground em certos semanários que podiam ser de esquerda ou ter orientação hippie, qualquer coisa que não se parecesse com os meios instituídos. Fizemos umas sessões especiais – apelando à curiosidade de certas pessoas.



De acordo com o catálogo de vendas da Record World, a MGM estava indubitavelmente a tentar vender os Mothers: “A MGM vai longe com Freak Out! A filial nova-iorquina da MGM lançou uma campanha promocional em massa, que já vai bem encaminhada, para fazer explodir os seus novos colegas musicais do freak-out, os Mothers of Invention.”
Um memorando interno de Jack Maher da MGM para Mort Nasatir, torna claro que a capacidade de Zappa para falar em termos de “produto” impressionou.


28 de Agosto, 1967.
Uma das melhores ideias que Herb Cohen e Frank Zappa tiveram desde que começaram a fazer publicidade, foi o uso dos painéis de publicidade em Sunset Trip.
Fiz um contrato com a Grant Advertising para usar o painel durante os meses de Outubro e Novembro. O preço é $3,200 pelos dois meses. No painel aparecerão todos os discos dos Mothers of Invention desde Freak Out! até We’re Only in It for the Money.




Mais tarde, ao ser acusado de produzir música comercial, Zappa respondeu que sempre tinha tido esperanças: julgara que Freak Out! ia ser um sucesso. James Dillon (um dos faróis da música clássica britânica que defende a “nova complexidade”) afirma que Zappa podia ser um grande compositor mas estava ligado à música rock por razões comerciais... Ao dizer isto ignora a relação dialéctica especial com o comércio que faz a música de Zappa ser tão interessante, o valor de ter alguém com uma estética da Escola de Frankfurt (alguém que compreende as tendências fascistas da indústria cultural) a operar dentro do sistema. Desejar que Zappa adira à música “correcta” é assumir que a música enquanto arte-elevada não tem ideologia, não é viciada pelo papel de garantir um “domínio elevado” à sociedade hierárquica, de fornecer um espelho para a auto-estima da classe média.
Nem a obra de Zappa irá encaixar no esquema clássico do rock: criatividade precoce seguida de vendas e conformismo. Embora muitas pessoas o tentem pregar a essa cruz. A exacta noção das vendas diz-nos tanto sobre os que acusam quanto sobre os artistas que são vilipendiados. O possível investimento espiritual nas individualidades dos artistas é inevitavelmente seguido de desapontamento, porque o que no final do arco-íris estão a arte e o produto e não a tão esperada transformação da vida quotidiana. Enquanto Zappa desenvolve, ao longo das décadas, as suas políticas pequeno-burguesas, temos de reconhecer que elas sempre existiram. As canções de Freak Out!, com todo o seu envolvimento cabeludo e as suas declarações “sem potencial comercial” eram tão comerciais quanto Zappa as conseguia fazer. Comparadas com o R&B pesado dos Muthers no Sinners & Saints (gravado no Mystery Disc do Old Masters Box One) a aproximação é melódica, inflamada, popular no sentido corrente. A banda sonora do filme Mondo Hollywood – um “documentário” titilante da cena freak de Los Angeles, feito em 1965, que devia conter uma aparição dos Mothers até Herb Cohen pedir demasiado dinheiro, obrigando a tirá-los do filme – estava perto: pop estridente/rock impetuosamente glorificado por metais e cordas.
Contudo, hoje, Mondo Hollywood parece uma resposta ultrapassada e datada do mundo do espectáculo ao rock. Freak Out! continua a ser fascinante – não por representar uma alternativa purista mas porque usa o comercialismo contra si próprio. Zappa ainda era capaz de tocar R&B agressivo e desbragado (demonstra-o em “Trouble Every Day”), mas estava demasiado fascinado pela contradição para se limitar a essa base. O olhar afectado e ameaçador de Freak Out!, uma aterradora insinuação de que algo de grosseiro se estava a passar, era brilhantemente coordenado com a organização gráfica da capa do disco e das notas: delineados para suscitar interesse a alguém tão farto da desconexão conformista da escola superior como Zappa. Um disco de blues e composições de vanguarda não conseguiria atingir o miasma de profanação alcançado pela perversão do pop inocente.


Esquece o baile de finalistas, vai à livraria e educa-te se tiveres coragem. Alguns de vós gostam de pequenos comícios animados e robôs de plástico que vos dizem o que devem ler. Esqueçam o que eu disse. Esta canção não tem mensagem. Põe-te de pé e saúda a bandeira.



A MGM viu o potencial de venda do disco e reagiu de acordo com ele. A Record World anunciou:

Bud Hayden, o executivo responsável pela promoção do disco e Tom Wilson, que produziu o embrulho de Freak Out! – dois discos pelo preço de um – já fizeram distribuição em alguns mercados extremamente receptivos e os homens da MGM estão prontos a dar mais um empurrão aos encontros desta semana.
Para cativar as pessoas foram lançados puzzles com a capa do disco.




Os Mothers tocaram no Havai, em São Francisco e apareceram no Swingin’ Time, o programa de televisão de Robin Seymour, a 19 de Julho (“O estúdio inundou-se de telespectadores que tanto diziam que eram espectaculares como horríveis,” disse Art Cevri, o coordenador de talentos) e no Club 1270 de David Prince, a 23 de Julho. A 29 de Julho, no papel de angariador de fundos do Los Angeles Free Press, Zappa organizou a GUAMBO – Great Underground Arts Masked Ball and Orgy.


Um poster desenhado ao estilo psicadélico dos cartões de saudações que Zappa usaria em Absolutely Free dizia: “Realizadores! Tragam o vosso trabalho e mostrem-no. Poetas ergam-se!” Um pequeno aviso revelava o tipo de tabus sociais a destruir. “Aviso: os nossos advogados dizem que não podemos permitir nus totais nas danças públicas.” O crítico do Los Angeles Free Press disse que o concerto não passou de “cinco músicos de federações americanas de cabelo curto, fatos pretos, camisas brancas e laços pretos” a tocar partituras de Zappa ao lado dos Mothers. O concerto perdeu dinheiro. Herb Cohen também organizou concertos no Shrine Auditorium de Santa Monica com os West Coast Experimental Pop Art Band, os Mugwumps, os Factory e os Count Five. “Psychotic Reaction” destes últimos tornou-se um exemplo bastante comemorado de punk dos anos 60.
Uma das influências mais formativas nos anos 70 foi a compilação de singles de bandas de garagem dos anos 60, Nuggets, organizada pelo crítico e guitarrista Lenny Kaye. Nos anos 80, o interesse pela breve explosão de meados dos anos 60 de grupos de brancos das faculdades, mostrou que Kaye estava apenas a aflorar a superfície; havia milhares destes grupos roufenhos, meio parvos/meio inteligentes que aprenderam as maravilhas do R&B com os Beatles e os Stones (Nuggets passou a série, com um imitador chamado Pebbles). Embora Zappa fosse conhecedor do R&B e os Soul Giants tenham passado muito tempo em clubes, muitas das músicas de Freak Out! não ficariam mal em Nuggets. Mais tarde, com a inclusão de Sugarcane Harris e Johnny “Guitar” Watson, Zappa faria mais viagens às raízes. Os Mothers eram uma banda punk dos anos 60. Se os Mothers tivessem lançado Freak Out! e depois desaparecido sem deixar rasto, seriam celebrados hoje como precursores do punk. O punk era a descoberta dos desprezados e dos ignorados – com Zappa a fazer digressões mundiais no final dos anos 70, não era muito adequado “descobrir” o seu antigo repertório (embora os ATV tenham tocado uma versão de “Why Don’t You Do Me Right”).
A primeira música de Freak Out!, “Hungry Freaks Daddy”, é dedicada a Carl Orestes Franzoni e aos “marginais da grande sociedade”. O cavernoso riff, variante daquele usado pelos Rolling Stones em “(I Can’t Get No) Satisfaction”, ocupa, estilisticamente, o papel central na canção. O solo de guitarra é tocado em tempo dobrado, uma técnica que também tornou a versão de “Louie Louie” de Kingsmen tão interessante. O som fanhoso, tipo hangar de aviões (outro recurso punk), é apoiado por vozes agrestes e ríspidas de Ray Collins e Zappa. Apesar da feroz e vertiginosa violência do solo de guitarra, o arranjo – vibrafone e fanfarra – é totalmente Mondo Hollywood. Algumas restrições financeiras fizeram com que os metais fossem tocados num brinquedo musical – o que dá à música uma agrura ofensiva e barata.
Tal como o jazz, o rock possui uma relação peculiar com Tin Pan Alley. O blues e o folk foram revisitados de modo a tirar sentimentalismo e falsidade à música, mas a necessidade de organizar material para a indústria cultural – apresentações sucessivas, canções de sucesso – significava que se tinha de fazer uma aprendizagem dos Gershwins e de Cole Porter. Paul McCartney foi particularmente astuto neste ponto de vista, escrevendo melodias que vinham directamente da Broadway. O R&B da Costa Oeste relacionava-se com Hollywood através dos seus “Sinatras sépia”: Nat King Cole, Charles Brown, Young John Watson (antes de tocar guitarra, Johnny “Guitar” Watson tocou piano e gravou um disco devastador para a Chess). O peso do blues nestas vozes transforma as harmonias espalhafatosas de Tin Pan Alley em qualquer coisa de grande efeito. Zappa odiava o trabalho ocioso e a música ociosa mas não podia evitar a herança de Sinatra quando se tratava de descobrir cantores: as vozes de doo-wop que tanto admirava inspiraram frequentemente os sons melosos das vogais de Sinatra.
Em “Ain’t Got No Heart” e “How Could I Be Such A Fool”, Ray Collins soa sinistramente como Jim Morrison. Aqueles que vêem os Mothers como uma versão californiana da Bonzo Dog Band poderão interpretar isto como paródia, mas convém lembrar que estas músicas foram gravadas um ano antes do primeiro disco de Morrison com os Doors. Zappa conhecia Morrison socialmente – e desaprovou o seu consumo de drogas, apelidando-o de “espécie de miúdo mimado das escolas académicas” – mas Morrison não era suficientemente conhecido em 1966 para merecer sátira. É mais um caso de desenvolvimento paralelo. A prestação vocal de Collins nestas canções – narcisista, portentosa, petulante – faz a Sinatra o que James Dean fez a Humphrey Bogart, substitui murmúrios de adultos por um olhar escarninho adolescente. Apesar de tudo, está mais perto de Tin Pan Alley do que do R&B. Morrison teve problemas para relacionar a sua voz com os pesados blues que admirava, e fê-lo usando uma pose sinatriana, o vocalista actor, em vez de apenas cantor. Collins faz a mesma coisa, só que, como se trata de música composta por Zappa, toda a representação está à beira de cair no ridículo: risos niilistas infiltram-se em todos os movimentos. Os Doors continuaram o projecto, fazendo discos com a nitidez de realizadores de cinema. A necessidade de uma estrutura levou os Doors a ligarem-se às velhas formas: ouvir José Feliciano a fazer sucesso com “Light My Fire” é realmente uma experiência punitiva para os apaixonados pelos Doors e a sua rebelião académica. Só Iggy Pop e os Stooges conseguiram transportar o rock para além da normal mente adolescente sem usar a ironia. Freak Out! usa ironia: toneladas. Há tanta ironia que se calhar a música é feita só disso. As notas de roda pé estão cheias de observações auto-depreciadoras: “Motherly Love” é uma “parvoíce vulgar”, “Any Way the Wind Blows” é “absurda e vulgar”, “Go Cry on Somebody Else’s Shoulder” é “muito oleosa. Não a devias ouvir. Devias usá-la no cabelo.” “Any Way the Wind Blows” foi incluída porque “em poucas palavras, é... como hei-de dizer isto?... é intelectual e emocionalmente ACESSÍVEL para ti. Ah! Talvez esteja mesmo à tua frente!”
“Ain’t Got No Heart” é uma canção de recusa que inicia uma longa lista de canções de negação do amor que põem Zappa e as feministas em rota de colisão. Nas notas, Zappa chama à canção “um resumo dos meus sentimentos sobre as relações sexuais-sociais”, Mas durante o casamento com Gail Sloatman (que durou até à sua morte) tais canções de negação do amor não pararam mais. Zappa afirma que as canções de amor são más para a saúde mental e fabricam ideais que não podem ser satisfeitos: “Ain’t Got No Heart” não é tanto um resumo dos sentimentos pessoais de Zappa como uma deliberada correcção dos clichés das músicas de amor. Zappa disse mais tarde que acreditava no amor, mas não no amor da Madison Avenue, uma afirmação que reconhece imediatamente a colonização comercial da vida privada que torna certos gestos tabus da arte radical. “How Could I Be Such A Fool” tem notas técnicas sobre o uso de diferentes ritmo.


É baseada num ritmo nanigo modificado. Chamamos-lhe Valsa Motown. Está sempre em 3⁄4 mas muda nos acontecimentos que ocorrem em cada secção. Como adolescente americano (como americano), para ti, isto não te diz nada. (Sempre me perguntei se seria capaz de escrever uma canção de amor.)




Zappa tenta educar os ouvintes para a natureza representacional da música pop, o facto de que é uma construção e não a vida real. Os constrangimentos musicais e emocionais do pop (comparados com os da música clássica ou do R&B) significam que estas ambições resultam em tensão: a distância entre as ideias de Zappa e as formas com que se deve lidar só podem ser percorridas no absurdo: As letras são frequentemente uma série de clichés que não jogam uns com os outros.


Como é que eu consegui ser tão parvo
Como é que eu consegui acreditar em todas as mentiras que tu me dizias...
Mas vai chegar a altura em que te vais arrepender do modo como
Me trataste como se eu fosse um parvo e não soubesse
As vezes que me mentiste sobre o teu amor por mim*




O narrador é parvo ou não? Ao conservar alguma dignidade para si próprio, o narrador fica atado em nós lógicos. São procedimentos como este, tentativas para fazer com que as formas convencionais das canções se auto-destruam – em vez do ódio pelas mulheres de que é acusado – que explica a frequência das suas canções de negação do amor.
A canção de amor simboliza de muitas maneiras a relação do cantor com o seu público: ao romancear o amado, o cantor expressa uma atitude em relação ao consumidor. Em relação a este assunto, a ofensa de Zappa, reiterada pela sua falta de atenção para com os argumentos feministas (uma falta de atenção que provavelmente o torna mesmo sexista – em termos de debate liberal), permite-lhe profanar as poses usuais, profanar como nunca foi feito no pop. As canções de negação do amor fazem parte da sua desconstrução formal.


Por que é que eu havia de deitar fora a vida “fixe” que tenho?
Porque, minha querida, aquilo que tens para mim não é aquilo de que eu preciso**




Mesmo em 1966, a palavra “groovy” ("fixe") aparece com aspas, enfatizando o modo como o branco se apoderou de uma palavra negra (um incómodo que Simon & Garfunkel perpetuaram em “Feelin’ Groovy”). As canções de Zappa são possibilidades de sentimentos: Zappa é um animador e não um cantor-escritor de canções. Isto explica a sua disponibilidade para usar outros cantores, é parte da sua estratégia para alcançar uma ressonância ambivalente para a chamada auto-expressão.
“You’re Probably Wondering Why I’m Here” expressa com agressividade nervosa o paradoxo da arte numa sociedade de bens de consumo.


Mas se calhar não sou eu que o devo dizer
Eles aqui só me pagam para tocar
Estás provavelmente a pensar por que é que eu estou aqui
E eu também, eu também***




“Não que isso te faça uma grande diferença”, diz Zappa no final. A canção provoca um efeito parecido a uma peça de Alfred Jarry ou Eugène Ionesco. Na secção de “notas relevantes” do disco, David Anderle escreveu: “Acho que a vossa aproximação à música coincide com as intenções exemplificadas com mais veemência nos aspectos “tragicómicos” do “teatro do absurdo”.
Samuel Beckett era considerado pelos críticos, juntamente com Jarry e Ionesco, “teatro do absurdo”, e para Adorno o exemplo perfeito de modernismo literário. O desgosto de Adorno para com o aerodinamismo dos lucros da música, as canções de sucesso da indústria cultural, pôs de parte a ideia de que alguém podia embarcar em tal ideia e mesmo assim funcionar dentro da indústria. Claro, ainda há pessoas que se refugiam nos seus confortáveis abrigos contra a “vulgaridade” dos meios de massa, mas cada vez mais descobrem que no seu isolamento não conseguem compreender os movimentos da própria arte superior contemporânea, acabando por ser bobos da subsecção da indústria cultural que recicla trabalhos artísticos do passado. Adorno não era assim: o poder da sua análise advém de uma resoluta visão da totalidade social (ou antes, uma totalidade que ele só podia ver como anti-social, administrada e opressiva). Mantendo viva, no mercado, uma consciência social cercada por prateleiras classificadas de produtos de consumo: o projecto iniciado por Freak Out! Isto foi considerado impossível por Adorno, mas o facto é que ele também considerou as políticas dos trabalhadores impossíveis.
Há outros sinais de continuidade entre o modernismo da arte superior e os Mothers of Invention para além das referências ao teatro do absurdo. A mais importante foi o aforismo de Edgard Varèse: “Os compositores contemporâneos recusam-se a morrer!” Esta frase é de um manifesto da Associação Internacional de Compositores, grupo fundado por Varèse no Liberty Club, na 40ª Rua, no Leste de Nova Iorque, a 31 de Maio de 1921. Em Julho de 1921 declararam:


O compositor é o único dos criadores contemporâneos a que é negado um contacto directo com o público. Quando o seu trabalho acaba ele é posto de parte e surge o intérprete, não para tentar compreender, mas para o julgar impertinentemente. Ao não encontrar nenhum rasto das convenções a que está habituado, irradia-o dos seus programas, acusando-o de ser incoerente e ininteligível.
Em qualquer outra área o criador entra em qualquer forma de contacto directo com o público. O poeta e o romancista através da comunicação de uma página impressa; o pintor e o escultor, as portas abertas de uma galeria de arte; o dramaturgo, a liberdade de um palco. O compositor depende de um intermediário, de um intérprete.
Como resposta à procura do público, é verdade que as organizações oficiais colocam nas programações os trabalhos novos rodeados por nomes já estabelecidos. Mas tais trabalhos são cuidadosamente escolhidos do meio das tímidas e anémicas produções contemporâneas, deixando por ouvir os compositores que representam o verdadeiro espírito do nosso tempo.
A morte é um privilégio dos vencidos. Os compositores contemporâneos recusam-se a morrer. Perceberam a necessidade de se associarem todos e lutar pelo direito do indivíduo a assegurar uma livre e justa apresentação do seu trabalho. É de uma vontade como esta que nasceu a Associação Internacional de Compositores.
O objectivo da Associação Internacional de Compositores é centralizar os trabalhos diários, agrupá-los em programas inteligíveis e organizadamente delienados e, com a ajuda altruísta de cantores e instrumentistas, apresentar esses trabalhos de modo a que revelem o seu espírito fundamental. A Associação Internacional de Compositores recusa-se a admitir qualquer limitação, tanto de vontades como de acções. A Associação Internacional de Compositores desaprova quaisquer “ismos”; nega a existência de escolas; reconhece apenas o indivíduo.




Isto tem a ver com a sobrevivência económica do compositor, não é um princípio estético, o que explica a ênfase dada ao indivíduo (os compositores e os músicos nunca gostam de ser ligados a escolas, porque isso não melhora as suas carreiras; apenas a fama individual que emana dos concertos). Zappa levou este individualismo às últimas consequências e alterou o plural “compositores contemporâneos” para o singular.

* How could I be such a fool / How could I believe all those lies you told me... / But there will come a time and you'll regret the way / You treated me as if I was a fool and didn't know / The many times you lied about your love for me
** Why should I throw away the groovy life I lead? / Cos baby what you got is sure ain't what I need
*** But maybe that's not for me to say / They only pay me here to play / You're probably wondering why i'm here / And so am I, so am I



A POLÍTICA EM FREAK OUT!



Como tudo o resto – o uso irónico de arranjos do mundo do show business, o tributo à Sagração da Primavera, a afronta ao teatro do absurdo – Freak Out! também revela uma aguda compreensão das relações raciais. “Trouble Every Day” é um protesto em verso com rima* que segue o exemplo de Bob Dylan:


A não ser que o teu tio tenha uma loja
Sabes que cinco em cada quatro
Não farão mais
Que olhar os ratos que cruzam o soalho
E compor canções sobre ser pobre
Sopra na harmónica, miúdo*




A referência sarcástica aos blues na última frase, reúne perfeitamente a ambivalência de Zappa em relação à auto-expressão. A frase reaparecerá mais tarde em “Didja Get Any Onya” de Weasels Ripped My Flesh, enquanto se ouve grunhidos de porco a acompanhar um piano de salão. “Trouble Every Day” fala dos tumultos de Watts com uma integridade nunca ouvida no pop (até as primeiras canções de Dylan tinham tendência para ser poéticas e difusas, um vazio que durante o período cristão se tornou útil, quando as reinterpretou como declarações religiosas). Zappa mantém a forma à distância de um braço enquanto se apercebe da distância racial e política que o separa dos manifestantes.


E ele disse que era bem feito
Porque alguns deles eram brancos
E é o mesmo por toda a nação
Discriminação a preto e branco**




Por estas frases poderá parecer que Zappa adopta uma “imparcialidade” liberal (que, dada a realidade da opressão racial negra nos Estados Unidos, pode ser uma forma de racismo), mas a canção desenvolve um comentário sobre os tumultos que compreende a base económica da opressão. Sabe-se de que lado ele está. Zappa combina raiva e auto-defesa formulando de modo inesquecível:


Sabem, eu não sou preto
Mas há muitas vezes
Em que gostava de dizer que não sou branco***




Esta escrupulosa atenção para com as atitudes raciais é similar ao uso iconográfico que Zappa faz do cliché dos blues. Evita a presunção de, por exemplo, John Mayall quando tenta “cantar blues”. As políticas de Zappa – racionais e cáusticas – nunca possuíram o mesmo protesto absolutista dos Panthers (pretos ou brancos) ou dos situacionistas. Freak Out! possui o mesmo tipo de urgência e mordacidade, e fomenta tais expectativas: arte revolucionária oferecida por um não-revolucionário. Os estudiosos radicais ficaram desapontados pelas suas recentes declarações, mas se atentarmos pormenorizadamente vemos que desde Freak Out! até às “Guerras Porno” a linha de Zappa foi notavelmente consistente. Só os que sentimentalizam a arte como forma de política não conseguem perceber isto. As habilidades do caniche tiram lições políticas das ressonâncias simbólicas da arte de Zappa nas hierarquias da cultura capitalista e não nas suas entrevistas.
Um aspecto importante de Freak Out! ganhou o respeito de vários músicos de estúdio (denominados nas notas como “Auxiliares dos Mothers”), provando que este guitarrista de rock ‘n’ roll era capaz de escrever música que requeria destreza. Lowell George fez alguns comentários reveladores.


No trabalho, o Frank era um homem muito exigente. Escrevia partituras óptimas. Havia uma grande piada: os músicos de estúdio de Los Angeles, que eram todos perfeitos, foram a uma sessão dos Mothers of Invention a pensar que ia ser uma barrigada de riso. Vestiram-se todos a gozar: bermudas, ténis com os pés trocados e coisas assim. Foram à sessão e as pautas eram tão difíceis que não as conseguiam tocar. Ficaram todos assustados e saíram a dizer “Este tipo não é calão nenhum”. Nesse momento toda a gente mudou de atitude.




Zappa fez contactos importantes. Johnny Rotella (sopros de madeira) tocou mais tarde em Lumpy Gravy e The Grand Wazoo e Jerome Kessler electrificou o violoncelo para a digressão de Wazoo em 1972. Benjamin Barrett foi retratado como o contratador “Ben-Hur Barrett” na história em The Grand Wazoo; mais tarde o trombonista Ken Shroyer roubou-lhe o papel. Zappa também se pôs à prova nesta sessão – eram o tipo de músicos que combinavam a necessária mordacidade de conseguir ler partituras e improvisar ao mesmo tempo, exactamente aquilo que precisava para criar a sua terceira corrente.

* Em inglês, é claro: Unless your uncle owns a store / You know that five in every four / Won't amount to nothing more / Than watch the rats go across the floor / and make up songs about being poor / Blow your harmonica, son
** And he said it served them right / Because a few of them were white / It's the same across the nation / Black and white discrimination
*** You know people I ain't black / But there's a whole lot of times / I wish I could say I ain't white




Texto retirado do blog Fora de Cena, por Pedro Marques, que traduziu o livro de Ben Watson - The Negative Dialectics of Poodle Play. A tradução é em português de Portugal e por isso algumas palavras podem soar estranho, como o próprio título traduzido como: As Dialécticas Negativas das Habilidades do Caniche. O que no Brasil é: As Dialéticas Negativas das Habilidades do Poodle.


domingo, 30 de dezembro de 2007

Frank Zappa - Uncle Meat Demo [1968]



Não encontrei muita informação sobre esse disco, aparentemente foi lançado como bootleg e também era conhecido como Acetate. São demos ou outtakes do álbum Uncle Meat (1969), eu desconfio que as músicas foram tiradas do VHS lançado em 1987 (na verdade era para ser lançado em 68/69, no entanto levou 19 anos para sair), mas não estou bem certo se as músicas vieram daí. Quando peguei este arquivo não tinha capa, procurei em várias fontes, mas achava sempre os mesmos dados e necas de capa! Então resolvi improvisar uma. Quem souber alguma coisa a mais sobre esse disco, agradeço se me contar. No texto em inglês estão as informações que eu descobri.








Frank Zappa - Uncle Meat Demo



The Mothers Of Invention at the time of this recording were:
Frank Zappa - guitar, low grade vocals, percussion
Ray Collins - swell vocals
Jimmy Carl Black - drums, droll humor, poverty
Roy Estrada electric - bass, chesseburgers, Pachuco falsetto
Don (Dom De Wild) Preston - electric piano, tarot cards, brown rice
Billy (The Oozer) Mundi - drums on some pieces before he quit to join RHINOCEROS
Bunk (Sweetpants) Gardner - piccolo, flute, clarinet, bass clarinet, soprano sax, alto sax, tenor sax, bassoon (all of these electric and/or non-electric depending)
Ian Underwood - electric organ, piano, harpsichord, celeste, flute, clarinet, alto sax, baritone sax, special assistance, copyist, industrial relations & teen appeal
Artie (With the Green Mustache) Tripp - drums, timpani, vibes, marimba, xylophone, wood blocks, bells, small chimes, cheerful outlook & specific enquiries
Euclid James (Motorhead/Motorishi) Sherwood - pop star, frenetic tenor sax stylings, tambourine, choreography, obstinance & equipment setter-upper when he's not hustling local groupies

Special thanks to: Ruth Komanoff who plays marimba and vibes with Artie on many of the tracks, and Nelcy Walker the soprano voice with Ray & Roy on Dog Breath & The Uncle Meat Variations
Uncredited:Pamela Zarubica as Suzy Creamcheese




sábado, 29 de dezembro de 2007

Frank Zappa - The History and Collected Improvisations




Esta fantástica box de 10 LPs foi postada em arquivos digitais no Studio Z, com direito a encarte e tudo mais. É só passar por lá e conferir. Maiores detalhes sobre o conteúdo, no texto em inglês.







Frank Zappa - The History and Collected Improvisations



This fantastic 10 LP box was posted in the Studio Z blog with booklet and everything. You need check this. This is a box, with a 36-page (counting the cover) booklet called Ten Years on the Road with Frank Zappa & the Mothers of Invention (which may also have been sold separately?) consisting of reproductions of various newspaper, magazine and other articles. It has been re-issued several times on coloured vinyl and packaged with an unknown EP and some crap: a button and a sticker. All records were also sold separately, each in a 100-copy edition.
The front cover has six pictures of various Mothers line-ups from 1966-1973; the back has liner notes. Inside the box, the records are in plain white wrappers. They all have different label colours; the first two records are supposed to be dark blue and sky blue, respectively, but on some copies they are the same colour. On those copies, all other records also have "The History & Collected Improvisations" and "1962-1976" printed on the labels, along with side numbers - on other copies, they just have colour, no text.
This box may have been re-released on six CDs. There is a 6-CD box by the same name, but it is not known whether or not it contains the same stuff. But there were only 60 such sets printed, so you're not likely to come across one anyway (unless someone copied it and printed 6000, of course). In February 1999, a 10-CD box was reported: RXZ Records 301-310, lavishly packaged with "booklet and 5 photo inserts".

Frank Zappa - The Sheik's Rehearsals [re-post 2001]



Esse disco fez parte das primeiras postagens deste blog, que começou a funcionar em maio deste ano. Eu dei uma conferida no link e ele ainda estava ativo. Portanto não é exatamente um re-post, mas uma nova linkagem. The Sheik's Rehearsals foi gravado em 1978, sendo das faixas 1 a 10, em 16 de agosto (Rehearsal Concert) e as demais em 25 de Fevereiro (Neunkirchen Am Brand Concert) na mesma época em Zappa estava gravando o Sheik Yerbouti, um dos melhores álbuns de sua extensa discografia. Lamentavelmente a cópia aqui apresentada não trás o The Sheik's Rehearsals completo, pois o disco é um duplo. O que tenho são 14 das 25 músicas do bootleg lançado pelo selo The Swingin' Pig. Nunca consegui encontrar o disco completo, caso alguém se habilitar a postar, por favor, me avise. Mesmo assim, ainda vale a pena por ser um disco que não se acha fácil por aí.







Frank Zappa - The Sheik's Rehearsals



Tracks 1-10 & 13-14 are rehearsals from Culver City 16-Aug-1978. Tracks 11-12 live in Neunkirchen am Brand 25-feb-1978.
From Jon Naurin: And note that nothing on this bootleg is actually recording sessions or rehearsals for Sheik Yerbouti. The rehearsals are for the tour after the "SY tour".
This bootleg was originally a double CD. But, unfortunate I have only this tracks. If somebody have the other tracks, please send me.


Frank Zappa - A Token of His Extreme 1974



Temos aqui o registro do concerto realizado para a KCET TV de Los Angelis (CA – USA). A qualidade do som não é mal, um pouco estourada no agudo, mas dá para ouvir tudo numa boa. Esta é a versão do selo Mud Shark / Nocturnal Records MZ-3607, mas existe uma outra da Nifty, Tough & Bitchen Records. Na banda estão FZ, Napoleon Murphy Brock, George Duke, Ruth Underwood, Tom Fowler e Chester Thompson. Os caras executam uma grande performance tocando músicas do álbum One Sizer Fits All (1975), um dos meus discos favoritos o que consequentemente faz deste bootleg um dos meus prediletos. Existe um registro desta apresentação em vídeo onde alguém chamado Marty Perellis ataca Chester Thompson em uma fantasia de gorila. No vídeo a ordem das músicas é diferente, por isso tenho minhas dúvidas se o show que está aqui é o mesmo.






Frank Zappa - A Token of His Extreme


The issue A Token of His Extreme (not to be confused with A Token of MY Extreme) was pressed in 2000 copies on black vinyl and 500 copies on green vinyl. It is supposed to be slightly different, but exactly how is not known. It came out in two versions, this is from the Mud Shark and Nifty, but have other one from Tough & Bitchen labels (the latter also making it record 6 of their Mystery Box). The sound quality is not awful (for example better than Freaks & Motherfuckers) but it isn't great either; there's a lot of high end but you can listen to it comfortably.
The first track on each side fades out to a brief break and the the rest of each side segues."Dog Breath" is without lyrics and played at a fast tempo. Much of the 1st track sounds cut-up or like it may have been "played with" in a studio somewhere. From "Florentine Pogen" through "Inca Roads", each song has a solo by Frank. "Stinkfoot" is the Tom Waits' Restaurant version ["right around the corner ... over by Tom Waits's Restaurant"] and is sung through the voice modifier. It also leads into the guitar solo with the Fido slaughter and "Sick!" (just like on Stage #2). The second "Pygmy Twylyte" is a short jam in the same fashion as "The Booger Man" from Stage #4: a band member shouts a line from "Pygmy Twylyte" during it - hence the title I guess.

Frank Zappa and The Mothers of Invention - Pregnant [BR - 1972]



Tenho este disco há tantos anos que já não me lembro mais quando e aonde eu comprei, provavelmente foi nos anos 80 em algum sebo. Esta é uma rara coletânea abrangendo os quatro primeiros discos do Mothers of Invention: Freak Out (1966), Absolutely Free (1967), We're Only in It for the Money (1968) e Cruising with Ruben & the Jets (1968). Alguém pode indagar que entre esses lançamentos ainda existe o Lumpy Gravy (1967), e é verdade, só que o Lumpy Gravy foi o primeiro solo do Frank Zappa e não está creditado aos Mothers. Pregnant foi lançado como LP simples somente em alguns paises, além do Brasil (Verve 2356049), ele saiu na Alemanha (MGM 2356 049), França (Metro Records 2355032), Colômbia (Blue Verve 2304072), Noruega, Suécia e Nova Zelândia (Metro Records 2356049, nesses três últimos paises). Existe uma versão lançada nos EUA (Verve 2356049) em LP duplo que é raríssima, tanto que algumas pessoas alegam que ela nunca existiu, eu nunca vi e nem ouvi essa versão, mas gostaria muito de saber quais as músicas incluídas no outro LP. A capa, creditada a Jürgen E. Gesang, é de longe uma das mais feias entre os álbuns do Zappa, e também foi usada em uma compilação de vários artistas lançada na Argentina sob o nome de Sound Monsters (JC Production 000 0408).






Frank Zappa and The Mothers of Invention - Pregnant


This is a rare compilation that included tracks from the four first albums from The Mothers of Invention. The LP was released in Germany (MGM 2356 049), France (Metro Records 2355032), Colômbia (Blue Verve 2304072), Brazil (Verve 2304072), New Zeeland, Norway & Sweden (Metro Records 2356049, for these three last countries). The Pregnant LP was also released in the US! As a double LP (Verve 2356049)! Unfortunately, I don't know what was on the second LP. It is absolutely extremely rare; I have NEVER seen the American version. The cover, credited to a Jürgen E Gesang (funny name), is by far the ugliest ever on a Zappa album (and it also appears on a various-artists compilation from Argentina called Sound Monsters (JC Production 000 0408).



As Dialéticas Negativas das Habilidades do Poodle #7


OS FREAKS



Zappa concentra-se no bizarro para o usar depois, moldando ícones de protesto, comportamentos divergentes, opostos ao estilo de vida homogeneizado da América do pós-guerra. Ele dedica três páginas do The Real Frank Zappa Book a Crazy Jerry, um viciado em choques eléctricos, e ao seu colega Wild Bill, o Fode-Manequins. Este interesse pelas margens da sanidade mental foi artisticamente frutífero no álbum de Wild Man Fischer. O fenómeno freak, contudo, constituía uma cultura consciente, uma extensão da boémia beat indevidamente eclipsada pelo flower power. Ao contrário dos hippies, que Zappa achava serem conformistas e estúpidos, ele interessou-se pelos freaks e Freak Out! teve como objectivo dar visibilidade ao movimento. Zappa descreveu os freaks mais tarde.

A origem dos hippies e a sua ascensão do flower power de Haight Ashbury em São Francisco é bem diferente da evolução do movimento freak de Los Angeles do qual eu fazia parte. Havia uma diferença no conceito. Nunca fui hippie. Nunca comprei a ética do flower power... por volta de 1965, a maior parte das pessoas da cena freak de Los Angeles juntava-se através dos seus hábitos e dançava muito. Os verdadeiros freaks não usavam drogas. Depois havia os freaks de fim de semana que apareciam e metiam qualquer coisa pela goela abaixo. E depois começavas a ouvir por todo o lado falar de pessoas que se passavam com ácidos, era uma cena muito colorida. Vito era o líder da cena freak e Carl Franzoni uma espécie de general. O Vito tinha cerca de sessenta anos e era casado com uma ex-chefe de torcida de vinte – costumavam estar perto do restaurante Cantor a ensinar as pessoas a serem freaks.



Vito fazia esculturas na sua cave e também ensinava. Liderava um grupo de bailarinos: iam aos concertos e chocavam toda a gente com a sua desinibição. A Menina Pamela das G.T.O. descreve um encontro com ele.

Vimos o Vito num sofá de veludo cor-de-rosa, rodeado por pessoas de todas as idades e raças, profusamente enfeitadas, que pareciam prestar-lhe homenagem. Ele tinha o cabelo cinzento comprido e despenteado e uma barba horrível que parecia ter sido mergulhada numa garrafa de verniz; tinha vestida uma tanga apenas, com atilhos e uma pena de pavão tatuada no peito.


Ela descreve a mulher de Vito, Szou, a dar de mamar ao filho de três anos, Godot, depois de ele ter dançado todo nu em cima de uma mesa. Carl Franzoni, a quem “Hungry Freaks Daddy” é dedicado, é descrito como um “tipo muito pouco atraente, vestido de maillot vermelho, pintado à mão, que beliscava os rabos de todas as miúdas”. Pamela Zarubica foi mais simpática: “O maior freak de sempre – vestido de maillot preto e uma capa da cabeça aos pés, de cabelo electrizante e uma pêra incrível que rivalizava com o tamanho da sua língua.” Sexo com muitas variantes – menoridade, público, múltiplos parceiros – era a grande arma durante a guerra contra a América média.

O Vito escolheu umas pessoas e convidou-as a irem a casa dele para assistirem a uma sessão prática de carícias. Eu nunca tinha visto duas mulheres no calor da paixão, por isso arrastei a Sparky comigo. Quando chegámos ao sítio da acção, os gemidos já tinham começado e furámos por entre os que olhavam com desejo para o pequeno quarto de Vito e Szou que não era mais que uns naperons estendidos numa cama de armação, na qual duas raparigas muito ternas se lambiam por entre risadas. Era uma coisa tão estranha; ninguém parecia estar a excitar-se sexualmente por estar a olhar para as pubescentes raparigas, mas todos observavam a cena em silêncio como se ela fizesse parte da educação ministrada pelo mestre Vito. (Excepto Carl, que não fazia nenhuma tentativa para controlar o seu êxtase.) Uma das raparigas que estava na cama só tinha doze anos, e uns meses mais tarde Vito foi deportado para o Taiti por causa disto e por muitas outras situações iguais.

A morte acidental de Godot (“caiu por uma clarabóia durante uma extravagante sessão de fotografias no telhado”) deixa a impressão de que Vito e Franzoni viviam perigosamente perto da loucura. Os freaks eram caracterizados pela Menina Pamela como o “pós-bop, pré-pop”, uma cultura de transição entre os beats e os hippies. O pessoal freak fundiu-se com os glitterati aspirantes a Hollywood. No funeral de Lenny Bruce, por exemplo, esteve Phil Spector com a Menina Pamela, Dennis Hopper e Frank Zappa. Foi a mesma onda que produziu os Monkees, uma série de TV inovadora cujo sucesso nos tops obscureceu os seus consideráveis méritos. As pessoas ficaram chocadas quando Zappa disse que os Monkees – uma palavra da moda para o oportunismo estúpido – eram a banda com melhor som em Los Angeles: ele notou que podiam comprar bom equipamento. A casa de madeira de Zappa, para onde se mudou em 1968, foi herança dos freaks. Construída originalmente pela estrela cinematográfica Tom Mix, albergou primeiro a comunidade de Carl Franzoni. Segundo a Menina Pamela:

Frank Zappa queria viver nessa casa e acho que foi ele que influenciou a senhoria, que era muito má, porque o Carl e as raparigas foram despejados da cave e forçados a procurar alojamento noutro sítio.

Alguns comentadores vêem isto como simbólico da exploração que Zappa fez da cultura freak, mas provavelmente é verdade que sem Zappa as façanhas de Carl Franzoni já teriam sido engolidas pela história há muito tempo. Zappa fala da incredulidade sobre a inquestionável natureza da cultura de massas dos anos 60 antes dos freaks terem aparecido.

A maior parte das coisas que fiz entre 1965 e 1969 eram dirigidas a um público que estava acostumado a aceitar tudo o que lhes era dado. Quero dizer: tudo. Era extraordinário: política, musical e socialmente – tudo. Qualquer pessoa dava-lhes uma coisa e eles nem a questionavam. A minha campanha nessa altura era fazer coisas que abanassem as pessoas que estavam nessa atitude contemplativa, ou nessa ignorância, e fazê-las questionar as coisas.




Texto retirado do blog Fora de Cena que traduziu o livro de Ben Watson - The Negative Dialectics of Poodle Play. A tradução é em português de Portugal e por isso algumas palavras podem soar estranho, como o próprio título traduzido como: As Dialécticas Negativas das Habilidades do Caniche. O que no Brasil é: As Dialéticas Negativas das Habilidades do Poodle.


sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Frank Zappa & The Mothers (featuring Captain Beefheart) - Bongo Fury in El Paso [1975]






Aqui temos a apresentação de Zappa & Beefheart realizada no County Coliseum, em El Paso, Texas-EUA, em 23 de Maio, de 1975, juntamente com o The Mothers, então integrado por: Denny Walley, Tom Fowler, Terry Bozzio, Napoleon Murphy Brock, George Duke, Bruce Fowler e mais Jimmy Carl Black como convidado especial, cantando duas antigas canções “You're So Fine” and "Those Lonely, Lonely Nights" originalmente gravadas por The Falcons e Earl King, respectivamente. "Those Lonely, Lonely Nights" ganharia mais tarde uma versão de Johnny "Guitar" Watson. O show no County Coliseum vai até a música “Florentine Pogen". A partir daí, a origem das faixas passa a variar entre gravações de estúdio e ao vivo. “200 Years Old” é um outtake daquela lançada oficialmente no disco Bongo Fury (1975), que durava apenas 4m:32s, aqui ela tem 08m:06s. ReDuNZL, também é um outtake, sendo vinte segundos mais longa que a lançada oficialmente em Lost Episodes (1996). O áudio poderia ser melhor, mas também não é ruim, afinal trata-se de um bootleg raro que registra um momento que merece ser compartilhado. Mais detalhes sobre as músicas no texto em inglês.








Frank Zappa & The Mothers (featuring Captain Beefheart) - Bongo Fury in El Paso


Tracks 1-17 are recorded live at the County Coliseum, El Paso, May 23, 1975. The band was: FZ, Denny Walley, Captain Beefheart, Tom Fowler, Terry Bozzio, Napoleon Murphy Brock, George Duke, Bruce Fowler and a plus special guest: Jimmy Carl Black. He sing the oldies “You're So Fine” and "Those Lonely, Lonely Nights"originally recorded by The Falcons and Earl King. The last one was covered later by Johnny "Guitar" Watson. It was written by Earl King or his manager, John Vincent, depending on which credit you believe.
Tracks 18-29 are bonus tracks. Track 18 is the unedited version of the track that's on Bongo Fury, clocking in at around 8 minutes instead of 04:31. What has been cut out on Bongo Fury is 39 seconds just before the guitar solo (a slide solo by Denny Walley), 2 minutes and 43 seconds just after the guitar solo (effectively a piano solo and one verse), and 2 seconds of the fade-out. It also appears on Chronicle and on An Evening with ... Frank Zappa & Captain Beefheart.
Track 19 is recorded live in a studio in 1975, with Zappa strumming chords and Beefheart singing (barely audible).
Track 20 is a longer edit of the Lost Episodes version - some 22 seconds longer.
Tracks 21-24 were previously thought to be live at the Music Hall, Boston, April 27, 1975 (early show).
Tracks 25-29 live in William Patterson College, Wayne, NJ, November 11, 1973 (early show), with Irma Coffee on guest vocals.
1973 musicians: Frank Zappa, Ruth Underwood, Napoleon Murphy Brock, Ralph Humphrey, Chester Thompson, Tom Fowler, Bruce Fowler, Walt Fowler and George Duke plus special guest Irma Coffee.







Frank Zappa (featurring Capt. Beefheart) - Metal Man Has Hornet's Wings [1976]



No capítulo sobre o Studio Z, do texto As Dialética Negativas das Habilidades do Poodle (adoro esse nome), há um comentário sobre o bootleg Metal Man Has Hornet’s Wings, lembrando que a principal fonte deste disco foi um programa de rádio australiano apresentado por Captain Beefheart e Frank Zappa em 1975, onde o duo recordou e brincou enquanto passava faixas de Bongo Fury (mais tarde esse seria o nome de um disco ao vivo e oficial dessa parceria), gravações dos arquivos de Cucamonga e improvisava "Orange Claw Hammer" ao vivo no estúdio. Para não deixar ninguém na vontade aqui está ele, o mítico pirata da dupla mais pirada do planeta. Adoro a faixa My Guitar Wants to Kill Your Mama, uma versão single gravada nos estúdios da A&R de NY, diferente daquela que foi lançada no Stage #5. A música “Lightning Rod Man” não é do Zappa e nem de Beefheart, mas de uma banda chamada The Factory integrada por Lowell George e Elliot Ingber (que mais tarde se juntariam ao The Mothers of Invention). Por muitos anos as pessoas pensaram que a voz do cantor era de Beefheart.







Frank Zappa (featurring Capt. Beefheart) - Metal Man Has Hornet's Wings


Most of this record is from a radio show on KWST radio, 01-Nov-1975, where Zappa and Beefheart played oldies and oddities. The bootleggers have added a few tracks (the ones that seem out of place). There is a completely unsubstantiated rumour that this radio show was actually a broadcast of a Warner Brothers promo record with these songs on it, which has never been found and never been confirmed to have existed.
One track, Lightning Rod Man, is by a band called The Factory which included Lowell George and Elliot Ingber. For many years people thought the gruff voiced singer was Beefheart. All the other tracks are by the Mothers from 1967 to 1969.




quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Captain Beefheart - Discografia

A discografia completa do Captain Beefheart & His Magic Band está disponível no bolg Dudu2doVinil, inlcusive o clássico álbum duplo Trout Mask Replica (1969), produzido por Frank Zappa e o fantástico Shiny Beast (Bad Chain Puller) (1978), meu disco favorito do Beefheart.






You can find The complete Captain Beefheart & His Magic Band discography in the Dudu2doVinil blog,

Don Van Vliet - Captain Beefheart







Diga-me com quem andas e te direi quem és. Se aplicarmos este antigo provérbio brasileiro em Frank Zappa, chegaremos a conclusão que ele é um cara muito louco! Assim como é o seu antigo colega de escola, parceiro musical e mais conhecido amigo Don Van Vliet, um tipo muito “doidão” apelidado por Zappa como Captain Beefheart. Eles se conheceram na adolescência quando os pais de Don se mudaram para Lancaster, uma cidade no interior da Califórnia, localizada no deserto Mojave. Estudaram juntos no Antelope Valley High School e compartilhavam do interesse pela música em especial por R&B. O estranho apelido surgiu a partir de uma história narrada por Vlie, a respeito de um tio seu, que era major do exército e gabava-se do tamanho do seu membro, comparando-o com um pedaço de carne do tamanho de um coração humano. Frank achou aquilo engraçado e apelidou o amigo de Captain Beefheart. O tipo é daqueles que se chamarmos de figuraça é pouco, louco então não passa nem perto, ele é mesmo pra lá de Bagdad, influenciado por vertentes dadaistas, beatniks, freaks e psicodélicas.
Este pequeno incidente, um fragmento de texto retirado do blog Trabalho Sujo, ilustra bem o personagem que estamos falando:

Depois do fracasso no festival em Mount Tamalpais, em Los Angeles, tudo ia mal para Captain Beefheart & His Magic Band. Tocando pela última vez com Ry Cooder, o grupo enfrentava seu primeiro grande público, uma preparação para o festival de Monterey, que aconteceria em pouco tempo. Estamos em junho de 1967 e quando a banda entra no meio de "Electricity" e o vocalista Don Van Vliet é acometido de pânico de palco devido a uma viagem de ácido errada: o rosto de uma garota da platéia transformara-se num peixe e começava a soltar bolhas. Por algum motivo estranho, Don teve medo daquela visão bizarra e travou. Não conseguia mais cantar. Olhava pra cima, tentando desviar o olhar da menina, mas só conseguia inclinar-se para trás, andando vagarosamente de costas à medida que se afastava do microfone. Os outros músicos nada entenderam, mas continuaram tocando. Até que notaram pela ausência completa do vocalista. Deitado com as costas no chão atrás do palco, Vliet tremia com os olhos arregalados, sentindo um medo mortal. Depois deste incidente, o imaginário marítimo passa a fazer parte do universo das letras do Captain Beefheart...


Don Van Vliet (nascido Don Glen Vliet, no dia 15 de Janeiro de 1941 em Glendaele, Califórnia) é um pintor e músico aposentado, mais conhecido pelo pseudônimo Captain Beefheart. Seu trabalho musical tinha o acompanhamento de um grupo rotativo de músicos chamado Magic Band, que esteve ativo desde o meio dos anos 60 até o início dos anos 80. Van Vliet era principalmente um cantor, mas também tocava harmônica, e ocasionalmente tocava saxofone de uma forma barulhenta, sem didática, num estilo free jazz. Suas composições são caracterizadas pela estranha mistura de marcações de tempo inusitadas e pelas letras surrealistas, enquanto Van Vliet é lembrado como um ditador rude em relação aos seus músicos, e também pelo seu relacionamento enigmático com o público.

Van Vliet se uniu a recém-formada Magic Band em 1965, logo assumindo o cargo de líder. A sonoridade do grupo tinha raízes no blues e no rock, mas Captain Beefheart & The Magic Band adotou uma linha mais experimental. Em 1969 foi lançado o disco mais conhecido do grupo, Trout Mask Replica, que foi produzido por Frank Zappa, amigo de infância de Van Vliet. O disco hoje é visto como uma obra-prima revolucionária e altamente influente. Van Vliet lançou vários discos no decorrer da década de 70, com várias mudanças na formação da Magic Band e com praticamente nenhum sucesso comercial. No fim da década de 70 a formação estabilizou com um grupo de músicos jovens, com uma derradeira série de três discos com grande sucesso de critíca. O legado de Van Vliet é de más vendas, mas sua música possui muitos admiradores, e inclusive teve grande influência nos movimentos punk e New Wave.

Desde o fim de sua carreira musical em 1982, Van Vliet fez poucas aparições em público, preferindo uma vida tranqüila na sua casa em Mojave Desert, e concentrando-se na sua carreira como pintor. Seu interesse por arte vem desde sua infância, quando já demonstrava aptidão para escultura. Sua arte é denominada como "abstrata-expressionista aestética neo-primitiva", conseguindo um bom reconhecimento internacional, havendo exposições freqüentes com seu nome. Nunca mais gravou nada e se recusa a dar entrevistas - principalmente se o assunto for música. Van Vliet sofre de esclerose múltipla.



> site oficial: www.beefheart.com <


Os três últimos parágrafos acima foram retirados da Wikipédia . Uma biografia mais detalhada em português está no blog Trabalho Sujo .

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Z – Shampoohorn [1994]



Este é um projeto dos filhos do Zappa, Dweezil e Ahmet em parceria com Mike Keneally, último guitarrista a participar das turnês de Frank e segundo o próprio Zappa, um dos melhores guitarristas que já tocou com ele. E olha que nesta relação temos Steve Vai e Adrian Below! Comprei este CD na época do lançamento e mesmo desconfiando do gosto musical do jovem Dweezil, resolvi arriscar por conta do Keneally. Shampoohorn foi além das minhas expectativas se mostrando um álbum muito bacana recheado de humor e boa música, foi o meu primeiro contato com o trabalho musical de Ahmet (terceiro filho do Zappa), que também me surpreendeu com sua boa voz. Além de cantar, ele também é ator, apresentador e no ano passado lançou um livro para crianças chamado "The Monstrous Memoirs of a Mighty McFearless" e está escrevendo um roteiro para o filme Fraggles estrelado por bonecos do Muppet Show. Assim como seu irmão, ele participou do trabalho do pai sendo co-autor da música “Frogs With Dirty Little Lips”, chegando a se apresentar com Frank num show em Sta. Mônica (1981). Neste disco, gosto muito de “In My Mind”, “Dreaming”, “Mountains on the Moon”, “Kidz Cereal” e “Doomed to Be Together”, mas há outras boas faixas. Em 1996 o Z lançou mais um disco chamado Music For Pets e infelizmente parou por ai. Uma pena, pois era uma banda de grande potencial. Dweezil e Ahmet atualmente estão se apresentado juntos no projeto Zappa Play Zappa, revivendo o repertório do pai juntamente com ex-integrantes das bandas do Frank Zappa em turnê pelos EUA e Europa.





Z – Shampoohorn


Shampoohorn by Z (bodacious guitarist Dweezil Zappa with younger brother Ahmet on vocals) is a rocking album that also entertains with an offbeat charm. From time to time the listener will spot traces of father Frank's influence - whether the tributes are intentional or just genetic is hard to say, but they're a pleasure to hear. Some of the overt goofiness is a little distracting, but it's all tolerable, and there are plenty of times where the boys and the band make it all the way to Awesome: "Loser," "Doomed to be Together," "In My Mind" and "My Beef Mailbox" are good examples. This one gets taken out for a well-deserved spin pretty regularly.
By -> Michigan Max (Ohio USA), customer review from Amazon.com





Z – Shampoohorn 1 link fixed
Z – Shampoohorn 2 link fixed

Frank Zappa - Kreega Bondola [1984]


Eu disse que iria evitar postar aqui os álbuns que estão no blog Studio Z para não cruzar as linhas e, sem querer, já deixei escapar um ou dois, mas este Kreega Bondola, eu estou postando de propósito mesmo porque merece estar entre os selecionados. É um discaço que registra a apresentação realizada no Saratoga Performing Arts Centre, de Nova Iorque em primeiro de setembro, de 1984. Um bootlegs 5 estrelas indispensável aos zappamaníacos, produzido pelo selo Triangle Records com qualidade sonora Soundboard A-.

É um dos melhores shows de 1984, em todos os aspectos, a faixa 20 apresenta um divertido tema sobre as cuecas de voodoo ma-juh-rene e a 24 é sobre “The Women’s Movement (Movimento Feminista) que acabou gerando uma discussão no alt.fan.frank-zappa, em março de 2000, sobre a coisa mais estúpida ou embaraçosa que Zappa disse no palco. A história foi mais ou menos assim: Antes do bis, alguém manda uma nota ao palco. Ela esta cheia de elogios fanzoquistas e então diz algo como "a única coisa desagradável a seu respeito é a sua atitude em relação às mulheres." Comentando algo sobre a boneca Raggedy Ann* e o que ele deveria fazer a homens tão estúpidos quanto as mulheres de quem faz chacota em vez de atos sexuais. Em seguida Zappa responde inesperadamente, com um tom de voz condescendente, dizendo algo como:

“Deixe-me falar sobre o movimento das mulheres. O único bom movimento das mulheres é aquele em que estou dentro delas e elas estão segurando no espaldar da cama, com os olhinhos girando até chegar atrás da cabeça. O que você acha disso?”



O outro incidente similar está registrado no “Lock Jaw Rap” do “Good Grief (a.k.a. Lisa’s Dangerous Kitchen) postado neste Dezembro Zappa. Algumas partes deste show aparecem no bootleg Big Mother is Watching You e no Z: All You Need Is Glove.

* Raggedy Ann é um personagem fictício criado pelo escritor Johnny Gruelle (1880-1938) em uma série de livros para crianças que escreveu e ilustrou. A personagem foi criada em 1915 como uma boneca e foi apresentada ao público em 1918 “Raggedy Ann Stories” Uma boneca de Raggedy Ann foi comercializada adjacente ao livro com muito sucesso.
Agradecimento especial ao amigo Bernardo Gregori pelo auxílio na tradução do texto.








Frank Zappa - Kreega Bondola


This is one of the best 1984 shows, in its entirety, with very good sound. (Some copies have been reported to list disc one as disc two, and vice versa.) Track 20 is about "voodo mar-juh-rene underpants" and track 24 about "the Women's Movement" - in a discussion on alt.fan.frank-zappa in March 2000 about "the dumbest or most embarassing thing Zappa said on stage", this talk on "the Women's Movement" was one of two things that came up. JWB describes it like this: Before the encore, somebody passes a note onstage. It has a bunch of fan-esque compliments and then it says something like "the only thing about you that sucks is your attitude towards women" ... and then it says something about the Raggedy Ann doll and how he should make it do some things to men who are just as dumb as the women he makes fun of, rather than sexual things. Then Zappa replies out of the blue, in a condescending voice, with something like:

"Let me tell you about women's movements. The only good women's movement is the one where I'm inside of them and they're holding onto the bedpost and their eyes are rolled up in the back of their head. What do you think about that?"


The other thing that came up was the "Lock Jaw Rap" from Good Grief! (a.k.a. Lisa's Dangerous Kitchen), posted in this blog.
Bits of this show also appear on Big Mother Is Watching You and Z: All You Need Is Glove.





terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Frank Zappa - Convention Center Arena [Dallas-TX 1980]



Noite de natal, jantamos cedo na casa do meu sogro. Tudo na santa paz e nos conformes: peru, presentes, confraternização e etc. Antes da meia noite já estavamos de volta a nossa casa e como não tinha nada melhor para fazer fui para o computador procurar mais informações sobre os discos do Zappa que estou postando. De repente dou de cara com isso: 17-Oct 1980, Convention Center Arena, Dallas, TX (63 min, SBD, A+). Cara, se você for procurar por gravações de shows do Zappa na internet, vai encontrar as pencas. Mas uma coisa me chamou à atenção: esse “SBD, A+”. Isso significa que foi gravado da mesa de som e apresenta uma qualidade de som excelente. Bootlegs soundboard recorded também tem bastante por ai, mas em poucos, mas pouquíssimos mesmo, você vai encontrar o A+. Podia ser mentira, porém eu tinha que conferir. Acabei chegando num blog chamado Fredunzel, não sei se tem relação com o site francês de mesmo nome dedicado ao FZ, mas lá só haviam duas postagens e entre elas este Convention Center Arena, que de fato apresenta uma qualidade de áudio excelente e, ainda por cima, é um show extraordinário. Não encontrei maiores informações sobre a gravação além da data, local, set-list e line-up. Mas um disco como esse não se acha todo dia. No entanto era natal e vai ver que o tal Noel resolveu me presentear (logo eu que nunca acreditei nele e nem gosto do natal) com essa pedra preciosa. Pego de surpresa pelo espírito generoso do natal, nada mais justo do que compartilhar este presente com vocês. Então parece que o tal Noel existe mesmo e aqui está o meu, o seu, o nosso presente de natal!






Frank Zappa - Convention Center Arena


When I was looking for some information to put in my posts, I found this Convention Center Arena bootleg. What my surprise is a great show with sound quality soundboard A+. Yes, I said soundboard A+! You know, it’s Xmas time and maybe Sta. Claus really exist. Here is my, your, our Xmas gift:

Live at the Convention Center Arena, Dallas –Texas (USA) 17-Oct 1980
FZ, Ike Willis, Steve Vai, Ray White, Arthur Barrow, Vinnie Colaiuta, Tommy Mars, Bob Harris.




segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

As Dialéticas Negativas das Habilidades do Poodle #6



NA PRISÃO




Os confrontos com a lei abrem os olhos, dando aos condenados uma experiência que nenhuma teoria política pode dar. Miles Davis levou vinte e dois anos para relatar o seu famoso espancamento e prisão à porta do Birdland (em You’re Under Arrest, 1981), o incidente inflamou uma desconfiança que durou toda a vida. O plano de fazer Captain Beefheart vs. The Grunt People foi anunciado na imprensa local, no Ontario Daily Report. Zappa construiu o seu “improvável” foguetão no Estúdio Z, usando uma grande quantidade de bocados de cenário que tinha comprado num leilão dos estúdios F. K. Rockett, a preço de saldo: $50. Pintou o cenário com uma rebuscada caligrafia psicadélica, porcas, parafusos e mostradores de relógios pintados como se fosse parte de uma banda desenhada. No nariz do foguetão, numa fotografia, lê-se a inscrição, “cortar pelo tracejado”, como se tudo tivesse sido construído seguindo as instruções do verso de um pacote de cereais.
O relativamente comprido cabelo de Zappa e o facto do estúdio Z ser refúgio para duas mulheres brancas e um bebé preto – que costumavam brincar no passeio em frente do estúdio, à vista da igreja Holy Roller que ficava do outro lado da rua – fê-los ser perseguidos. As autoridades fizeram disso conversa, mostrando uma lascívia no coração do conservadorismo cultural que Zappa perseguiu impiedosamente durante o resto da sua carreira.
Segundo David Walley, Zappa fora abordado por um membro da esquadra da polícia de San Bernardino aquando de uma apresentação dos Muthers no Sinners & Saints, perguntando-lhe se gostaria de fazer filmes de instrução para a esquadra. Zappa pensou imediatamente em termos de documentários warholianos de arte pop.




Era uma excelente oportunidade de fazer algo pela educação daquelas pessoas.
Disse para mim. “Vê, estes tipos andam por aí a dar murros ao pessoal mais esquisito, tratam-no mal sempre, mas talvez seja porque não percebem. Não sabem que as pessoas que prendem são mesmo pessoas”.



Este espírito de cooperação mudou quando a esquadra pretendeu apanhar Zappa numa pândega. Fizeram um buraco no estúdio Z e vigiaram-no algumas semanas. O detective Willis da esquadra de San Bernardino abordou Zappa pela primeira vez quando fez uma audição para o filme (senador Gurney, “o parvalhão”). Depois, voltou disfarçado de vendedor de carros em segunda mão e pediu a Zappa para fazer um filme porno “para a rapaziada”, descrevendo a lista de diferentes actos que deviam ser incluídos. A conversa foi retransmitida através de um mini relógio de pulso para uma carrinha estacionada.
Zappa ofereceu-lhe um filme por $300 e uma gravação áudio por $100. Willis aceitou a última.




Fiz a banda sonora nessa noite com a ajuda de uma das raparigas – cerca de meia hora de falsos gemidos e gritos. Não houve relações sexuais. Fiquei acordado a noite toda a editar as gargalhadas às quais juntei alguma música de fundo – uma produção completa.



Zappa e a rapariga, Lorraine Belcher, foram presos ao entregarem os resultados do seu trabalho depois de verem o estúdio Z ser invadido por flashs fotográficos e perguntas de jornalistas. O pai de Zappa precisou de pedir um empréstimo bancário para pagar a fiança. Eles não tinham dinheiro para pagar este claro caso de “cilada” (ilegal perante a lei americana), por isso declararam-se culpados. O juiz ouviu a gravação no seu gabinete e riu às gargalhadas, repreendendo Zappa por se deixar apanhar por Willis, o polícia local, conhecido por prender homossexuais nas casas de banho públicas, mas ainda assim penalizou-o com uma sentença de seis meses de prisão suspensa: excepto dez dias. Estes dias foram cumpridos na Prisão C da Penitenciária Municipal de San Bernardino. Tal como muitos iniciantes, Zappa ficou chocado pela trivialidade da natureza dos crimes que podiam levar à prisão:



“Havia um miúdo lá dentro com cerca de dezanove anos que esteve preso três semanas à espera de extradição para Beverly Hills por ter atravessado a rua sem olhar”.



Segundo Zappa, a prisão de Lancaster até era confortável (“de manhã davam-te panquecas”). Em comparação, as condições de San Bernardino eram aterradoras: um chuveiro para quarenta e quatro homens, baratas na comida, 40° de temperatura, luzes acesas durante a noite. Zappa diz que não viu nada desde essa altura que o fizesse mudar de opinião em relação ao sistema penal californiano. A imagem de encarceramento, misturada com campos de concentração de guerra, reaparece muitas vezes no seu trabalho. A prisão de San Bernardino foi recordada em “San Ber’dino” de One Size Fits All.




O ar é verde-escuro
E sufocas o dia todo



Encarceramento, claustrofobia, asfixia, gás venenoso, máscaras de gás: um recorrente grupo de imagens do trabalho de Zappa, todas conjecturam uma mensagem perturbante sobre as liberdades permitidas aos cidadãos da democracia social.



Texto retirado do blog Fora de Cena que traduziu o livro de Ben Watson - The Negative Dialectics of Poodle Play. A tradução é em português de Portugal e por isso algumas palavras podem soar estranho, como o próprio título traduzido como: As Dialécticas Negativas das Habilidades do Caniche. O que no Brasil é: As Dialéticas Negativas das Habilidades do Poodle.