quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

AMY WINEHOUSE

The Other Side of Amy Winehouse [2008]


Esse disco foi uma coisa que eu achei por aí e parece que é um bootleg, mas com uma qualidade de som tão boa quanto um disco original, estou postando porque simplesmente achei “dudu cassete”!! Aqui temos a mais nova porra louca (no melhor dos sentidos) do Grammy cantando coisas que nenhum diretor de gravadora deixaria passar em uma situação normal. No entanto, depois de premiada e aclamada, soltam qualquer boa gravação que tenham na mão no intuito de faturar um pouco mais em cima da estrela, portanto não será estranho se esse material for lançado oficialmente. O disco é bem isso que diz o nome, ou seja “o outro lado de Amy Winehouse”. Aqui ela canta coisas além dos R&Bs habituais e o resultado é simplesmente fantástico. A começar pelo ska "Monkey Man", e variantes alternativas de sucessos como "Rehab" e "Valerie", versões acústicas, jazzy, bluesy, os inevitáveis remix rappers muito em voga no momento (alguns até ficaram legais) e afins. Não vou entrar em maiores detalhes, quero que vocês ouçam e depois comentem, mas comentem cacete! De quebra, só para não perder o hábito, deixo de brinde um bootleg gravado em Berlim no ano passado.





The Other Side of Amy Winehouse

This record that I found on the Internet by chance, malgré its tremendous high quality, it seems to be a bootleg release. The reason I am posting it is that I honestly think it rocks – or jazzes. May I introduce to you the latest freak – freak is good – to be awarded with a Grammy who sings stuff no label executive would allow in any normal given situation. Nevertheless, once she’s been awarded a Grammy and standing oed by worldwide audiences, it will be no surprise if we find official releases of those recordings available on music stores front racks in order to opportunely make easy profit on this new shining star.The title of this Record could not fit better: “The other side of Amy Winehouse”. In addition to the traditional R&B tracks she dared to do a ska version of “Monkey Man”, as well as alternative variants of hits like “Rehab” and “Valerie” jazzy, bluesy versions and spliced with inevitable remix rappers – in vogue – some of which turned out as much superb as coherent. With no further a-do, I wish you all an enjoyable listening after which I’ll be looking forward to your comments. Don’t forget to send your comments, please, they are fundamental to this Blog. As a bonus, as I always do, I’m posting this precious bootleg which was recorded last year in Berlin. Enjoy!
English version by Bernardo Gregori




The Other Side of Amy Winehouse [2008] 1
The Other Side of Amy Winehouse [2008] 2



Tempodrom [2007]

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

JÚPITER MAÇÃ





Um bocado de psicodelia, com um tanto de mod, uma xícara de jovem guarda, um litro de tropicalismo, duas colheres de sopa de folk, mais um pouco disso e daquele outro, numa mistura de Beatles, Mutantes, Syd Barret (Pink Floyd), Tom Zé, Kinks, Caetano, Dylan, João Gilberto... Coloque tudo numa forma nascida em Porto Alegre, no dia 26 de janeiro, de 1968 e deixe amadurecer até os anos 90 do século XX da era cristã. O resultado é um ser inusitado chamado Jupter Apple, que já foi Júpiter Maçã, antes Woody Apple (Ops, não é parente meu não!), mas que foi batizado como Flávio Basso e hoje voltou a ser chamado de Júpiter Maçã. Tipinho estranho e metamórfico cujo trabalho musical (nas horas vagas ele, também, se aventura como cineasta) mistura todos os ingredientes citados acima, tendendo mais para um estilo ou para outro, sendo ora uma coisa, ora outra, ora nenhuma, nem outra. Complicado né? Neste caso a máxima de Tom Zé cabe muito bem: “eu to te explicado que é para te confundir, eu to te confundindo para te esclarecer”.

O nosso cítrico amigo tem história nas trilhas do rock gaúcho com passagem pelo TNT (anos 80) e no Cascavelletes (1987 – 1991). Depois disso, Flávio Basso adotou um estilo folk e saiu perambulando por ai sob a alcunha de Woody Apple, com violão e gaitinha no melhor estilo Bob Dylan. O Apple é uma referência aos Beatles influência marcante na sua formação musical. Já o Woody, eu não me lembro de ter lido ou ouvido alguma explicação dele a esse respeito, mas a julgar pelo estilo adotado só pode ser uma menção à Woody Guthrie (1912 - 1967), considerado um dos nomes mais importantes da folk music norte-americana e uma grande referência na música de Bob Dylan. Após essa breve incursão nesse universo folk, o nosso herói tira o Woody do nome e passa o Apple para o português, se intitulando Júpiter Maçã, gravando, em 1995, sua primeira demo com a banda Os Pereiras Azuis (futura Cachorro Grande). Essa demo já contava com futuro clássicos como “Lugar do Caralho”, regravada anos depois por Wander Wildner (Ex-Replicantes) e “Miss Lexotan 6mg Garota” que recebeu uma versão do Ira!.

Finalmente em 1997, ele lança seu primeiro disco solo, A Sétima Efervescência, que é calcado nos moldes de The Piper At The Gates Of Dawn, do Pink Floyd, com psicodelia e experimentação (e, por um leve momento, um prenúncio de sua obra ulterior, o final de "Sociedades Humanóides Fantásticas", uma bossa-nova psicodélica). As músicas desse disco são grandes referências do rock gaúcho. Contém algumas faixas fixadas no imaginário underground, como "Querida Superhist X Mr. Frog", "As Tortas e as Cucas", além das já citadas “Lugar do Caralho” e “Miss Lexotan 6mg Garota”. Após experimentar um relativo sucesso com o lançamento desse disco, torna-se Jupiter Apple, compõe em inglês, e decide misturar bossa-nova e vanguarda. Muitos fãs não o entenderam, preferindo a psicodelia "simples" do trabalho anterior. Essa mistura inusitada está muito bem feita no seu segundo disco, Plastic Soda (1999). Ele começa com uma canção de nove minutos, "A Lad And A Maid In The Bloom", que define o caráter inovador do disco.

Em 2002 é lançado Hisscivilization, o disco mais ambicioso (talvez incompreendido) de Jupiter Apple. Longas experimentações eletrônicas (destaque para "The Homeless And The Jet Boots Boy"), bossas elétricas e lounge, valsa, cítaras e MOOGs, condensados em momentos, ora de leveza, ora de paranóia. É seu disco mais hermético: se, para os que estavam acostumados com o rock and roll dos Cascavelletes, a Sétima Efervescência já era algo inesperado (psicodelia em doses cavalares), a reação causada pelos dois discos da fase Apple são ainda mais dramáticas.
Em 2006 era esperado o lançamento do disco Uma Tarde Na Fruteira, que acabou saindo somente em 2007, com uma edição especial lançada na Espanha, aonde recebeu ótimas críticas. Nele, o Apple volta a ser Maçã, mas continua explorando o lado brasileiro e experimental, com músicas já eternizadas no subconsciente do underground porto-alegrense, como "A Marchinha Psicótica de Dr. Soup". Esse disco pode ser considerado o mais acessível do autor. De certa forma, tudo que já foi composto pelo Júpiter está resumido neste trabalho: desde canções mod sessentistas, levezas jazz, baladas domingueiras e “bob-dylantescas”, concretismos e timbres eletrônicos.

Ainda no ano passado, as músicas do Júpiter Maçã rechearam a trilha sonora de Wood & Stock - Sexo, Orégano e Rock’n Roll, animação em longa metragem do cartunista paulista Angeli. Ele também lançou o álbum Jupiter Apple & Bibmo, pela Monstros discos, de Goiânia, com participações especiais no mínimo lendárias de: Prego (da Pata de Elefante) e Márcio Petracco (dos Locomotores). Isso, mais o fato do lançamento no velho mundo, talvez ajudem a trazer essa Maçã para um lugar ainda mais ao sol, porque apesar de tudo, Júpiter continua orbitando pelo underground e merecia um destaque maior, apesar da sua música ser um tanto retrô, lembrando uma série de referências do passado, essa velha receita ainda é muito melhor que muita coisa nova que está rolando por aí, principalmente se falarmos em termos de rock nacional aonde, com raras exceções, impera um pop (muito mais que um rock) recheado de mediocridade e intenções meramente comerciais.
A parte cinza do texto foi retirada do Wikipédia.
Outras fontes:
My Space, Whiplash, Trama Virtual e Elefant Records






JÚPITER MAÇÃ a.k.a JUPITER APPLE



Who is Júpiter Maçã? Where has this man come out from, a man who was only known until very recently by a very selected few in pop music's elite? The musical origins of this Brazilian filmmaker, multi-instrumentalist and composer take us back to the first half of the 90's, when he spawned a brief incursion in Dylan-esque territory under the moniker Woody Apple. He soon came back as Júpiter Maçã, his current name, with which he develops his personal version of a 60's inspired psychedelic sound in cult albums that don't cross the Brazilian borders, but do find an echo among an elite who whisper his name in each other's ears: among his following we find Tom Zé, Caetano Veloso, Arnaldo Baptista, Rita Lee, Sean Lennon, Tim Gane, Sean O'Hagan or Dean Wareham. A dream team of international good taste. "Uma tarde na fruteira" is Júpiter's fourth album, the firsy with an international distribution (now with his name in English), with which he will undoubtedly convince the rest of the world of the timeless beauty of his delicious modern Brazilian sound. The album is a complete revision of the history of the best Brazilian music, a mosaic formed by a thousand images and crafted with love, with care and with a deep knowledge of the subject. And not only soundwise, you know here at Elefant we consider the covers as an important part of the musical experience: the most illuminated have already spotted the obvious tribute designed Gregorio Soria has done on the cover to the records in the catalogue of exquisite Brazilian label Elenco (over fifty references, featuring classics by António Carlos Jobim, Sergio Mendes, Baden Powell or Roberto Menescal, all very enjoyable and with monocromatically gorgeous graphism). In such a beautiful envelope, JUPITER APPLE's actual sound takes us back, with its surrealistic, colourful imagery, to the most creative, explosive, exciting period in Brazilian music, the one going from the 50's to the 70's, the evolution that takes us from bossanova to MPB through Tropicalism. In his songs we find the same scents, the same colours and the same nostalgic yet optimistic exuberance that soaked the beloved recordings by OS MUTANTES, OS BRAÇOES, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé, Gal Costa... There's soft pop songs that remind you of the early Roberto Carlos, intimate bossanova à la Luiz Bonfa or Baden Powell, hedonistic easy listening to be filed with Sergio Mendes or Walter Wanderley, psychedelic pop and expanding symphonies that make you think of the best tropicalism or THE BEACH BOYS' "Pet sounds" and "Smiley smile". Pop art influenced histories, starred by beatniks, superheroes, bolshevists and tropical holidays, with the naïf bravery that made Brazilian experimental pop so daring and so artistically successful in its gold years. This is an album that could have been released in 1968, or in 1972. In 2007 it sounds as a delicious anacronism that, thanks to a special vision of a sound that was futuristic and original in its heyday, still sounds absolutely modern and different to anything else today. Who knows how has JUPITER APPLE managed to revive that old sound in such a faithful yet modern way (STEREOLAB, BROADCAST or Mike Alway would kill to have songs like "Menina Super Brasil" or "Act not surprised" in their repertoires... and for having the Brazilian blood run through their veins, a tradition that JUPITER APPLE has learnt from the cradle), because if there is a word to define this album, that is timeless: it sounds current, modern, but as if it had travelled in time; it jumps from one decade to the other, from past to future, and it makes us dream with times and sounds that have never existed or are still about to come.
From -> Elefant Records



Júpiter Maçã e os Pereiras Azuis - Demos [2007]


Esse disco eu descobri na internet como sendo a famosa demo gravada com Os Pereiras Azuis. Mas ouvindo mais atentamente se pode notar que as músicas vêm de mais de uma matriz e provavelmente são de épocas diferentes. Fica difícil dizer o que foi realmente gravado naquela época e o que veio depois. Procurei até cansar por maiores informações, mas não achei nada. No entanto e seleção de músicas é excelente formando um ótimo álbum, sendo assim achei que merecia uma capa legal e tratei de confeccioná-la. A foto em que aparece o Cachorro Grande(ex- Pereiras Azuis segundo a lenda) junto com o Júpiter foi uma montagem que fiz acreditando nas informações que encontrei.



Jupiter Apple - Plastic Soda [1999]



Trilha Sonora - Wood e Stock [2007]


quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

SCRAPOMATIC





Uns dias atrás eu estava ouvindo uma gravação da Derek Trucks Band e a voz do cantor me chamou a atenção. Parecia ser Warren Haynes e de repente ficou mais grave. Seria o Tom Waits em alguma participação especial? Eu fui conferir e descobri que não era nenhum, nem outro, o dono daquelas cordas vocais era Mike Mattison. Quem!? Fui procurar me informar e encontrei o Scrapomatic, a banda do cara. Uau! Me pegou na primeira orelhada, um blues com alta influências de raízes e ao mesmo tempo contemporâneo. Consultando o E-Music, um site de baixar músicas que eu assino e recomendo, achei o mais recente disco deles, o Alligator Love Cry que estou entregando de bandeja aqui para vocês. Quanto à história da banda não encontrei quase nada a não ser um texto fraco que estava no site oficial e tudo que consegui saber sobre o Scrapomatic foi retirado desse texto, mas o que mais importa saber nisto tudo é que é blues da melhor qualidade e sem cheiro de mofo!

O Scrapomatic é natural de Minneapolis - MN (USA) e começou com o cantor Mike Mattison e o guitarrista e compositor Paul Olsen, ambos influenciados por jazz e blues. Eles começaram a tocar juntos em meados de 1990. Não demorou muito para serem agraciados com o Minnesota Music Award nas categorias de Best R&B Group (Melhor Grupo de R&B) e Best Male Vocalist (Melhor Vocalista Masculino). Em 1997 o duo foi tentar a sorte no Brooklin, passando por quase todos os locais da área metropolitana de Nova York, inclusive o Carnegie Hall. Até que, em 2003, eles conseguiram gravar um álbum batizado com o nome do grupo e lançado pelo selo Artists House. Foi o suficiente para saírem do ostracismo e o jornal Boston Herald colocou o disco entre os dez melhores lançamentos do ano em meio aos chamados “hidden pearl” (pérola oculta) caracterizando-os como “o aperitivo perfeito do blues”. O Savannah Morning News também adorou o trabalho e publicou: “o Scrapomatic reafirma que a boa música ainda tem o poder de alimentar a alma.”

Fora das atividades do Scrapomatic, Paul Olsen permanece ativo em Nova York como bandleader, onde recebeu um importante prêmio da ASCAP (American Society of Composers, Authors and Publishers) pela autoria de “Transition” música do primeiro álbum deles. Mike Mattison assumiu a função de cantor principal na Derek Trucks Band em 2002, fazendo 125 apresentações anuais com o famoso guitarrista virtuoso. Seu primeiro disco de estúdio com a Derek Trucks, foi o Songlines, lançado pela Columbia Records em fevereiro de 2006, conseguindo as críticas mais favoráveis que a banda já obteve até hoje, sendo apontado por muitos como o melhor disco do grupo. Mas Mike também está no álbum Live at Georgia Theatre, de 2004, igualmente festejado pela crítica.

Como uma pegada nova, tanto para o blues urbano quanto para o rural, Scrapomatic chega com uma convincente variedade de faixas vibrantes, emocionais e cruas ao fazer sua estréia pelo selo Landslide Records. Alligator Love Cry o segundo lançamento em CD da banda, apresenta um blues poderoso, com sólido alicerce, encoberto com uma empolgante mistura de jazz, soul, alta carga vocal e um memorável sabor de scat (para quem não sabe, scat é um jeito de cantar imitando um instrumento, prática muito comum no jazz através de Ella Fitzgerald, Bobby Mcferrin, Louis Armstrong...). Bem, o disco está ai, e de quebra ainda vai dois bootlegs do Scrapomatic com excelente qualidade de áudio, mas com uma ressalva: em Live at Count de Hoernle aparecem às vozes de uma conversa durante umas duas faixas, provavelmente do apresentador que deixou o microfone ligado enquanto a banda tocava, mas fora isso o som está ótimo. Também vai no pacote um bom bootleg da Derek Trucks Band ao vivo no Sioux Falls Jazz and Blues Festival e os dois discos com a participação Mike Mattison, cortesia do amigo Ser da Noite, linkados diretamente do blog Collective-Collection. Ai está um pote cheio de mel, que é para vocês se lambuzarem de vez!


Scrapomatic


With a fresh take on both urban and country blues, Scrapomatic arrives with a convincing array of raw, outspoken and emotional tracks as they make their Landslide Records debut. Alligator Love Cry, the bands second CD release, demonstrates a solid foundation of potent blues, overlaid with a stunning mixture of jazz, sweet soul, highly charged vocals and a memorable taste of scat. The new album, enriched with themes that reverberate from street to bayou, has songs that can rock you down to sleep or stand up and slap you blind. Produced by five-time Grammy award-winning producer John Snyder and recorded at Dockside Studios in Maurice, LA., Alligator Love Cry boasts an exuberant collection of powerful songs that explore the often-blurry heights and depths of everyday life and the inner workings of the soul. Eleven originals surround cover tunes by The Replacements (Goddamn Job) and a public domain sing-along (I Belong To The Band). The album kicks off with Louisiana Anna, a laconic tribute to the Southern bar scene (or is it?) by way of a booming tuba backing, while the searing Horsemeat nails the harsh reality of street life. Conversely, So Much Love shows affection personified and a great big heart. Other standout originals include Lotus, an intriguing take on eccentric Manhattanites, the slide guitar driven, humor-laced Aint Got The Smile, and the melancholy but cathartic Graveside Blues.

The release is bolstered by an accompaniment of a savvy group of artists. Highlighting the guest appearances is new EMI Manhattan artist Kristina Beaty (vocals, violin) whose fiddle work and vocal harmony shine on the wayward travel epic, The Long Way Home. Beaty also soars on lead vocal for her own composition, The Other Side. Other musicians featured include Jeff Lipstein (drums, percussion) formerly with And You Shall Know Them By the Trail of the Dead and rock-legend David Johansen; George Rush (electric and acoustic bass, tuba, and vocals), formerly with Dan Zanes, and on loan from country-rock outfit Hem; and Robert Campo (trumpet) who made his name as a sideman with blues institution Clarence Gatemouth Brown.

Hailing from Minneapolis/St. Paul, MN and schooled individually in jazz, roots and blues music, Mike Mattison and Paul Olsen began playing together in the mid-1990s. After being recognized with Minnesota Music Award nominations for Best R&B Group and Best Male Vocalist, the duo decamped to Brooklyn, NY in 1997 and have since stomped their way through nearly every venue in the metropolitan New York area, including Carnegie Hall. In 2003, they recorded their self-titled debut album at Dockside with Snyder, which was released on his Artists House label. Chosen by the Boston Herald as one of its top ten hidden pearl releases of the year, the newspaper called it the perfect blues appetizer. The Savannah Morning News said Scrapomatic reaffirms that good music still has the power to feed the soul.

Aside from his Scrapomatic duties, Paul Olsen remains active in New York City as a bandleader and an ASCAP award-winning songwriter, for Transition from the duos first album. Mike Mattison joined The Derek Trucks Band in 2002 as its lead singer, and performs 125 dates annually with the renowned guitar virtuoso. Songlines, his first studio album with the group, was released on Columbia Records in February 2006 and garnered critical acclaim from The New York Times, Rolling Stone, Entertainment Weekly, and USA Today among others. Mattison is also featured on the recent DVD release by the DTB, Songlines Live.
From -> http://www.pbase.com/just_tim/scrapomatic




Alligator Love Cry


Live at Mexicali Blues


Live at Count de Hoernle


Live at Sioux Falls Jazz & Blues Festival 1
Live at Sioux Falls Jazz & Blues Festival 2


Songlines 1
Songlines 2


Live at Georgia Theatre 1
Live at Georgia Theatre 2
Live at Georgia Theatre 3
Live at Georgia Theatre 4

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

MESSER CHUPS






O mês de janeiro quase passa em branco, na verdade eu o deixei correr para que o Zappa ficasse mais tempo na página de abertura e planejava postar o Messer Chups há uma semana atrás. Acontece que as informações sobre este exótico grupo são um tanto quanto desencontradas. Os textos em português que eu encontrei estavam equivocados e os em inglês foram, com algumas exceções, traduzidos de originais em russo e alemão. Além dos eventuais erros de interpretação, havia ainda uma série de informações que não batiam umas com as outras, então foi necessário segurar o post e fazer uma pesquisa mais apurada sobre a banda. Bem... Espero que a demora tenha valido a pena!

O Messer Chups é um grupo soviético que faz um som tipo trilha sonora de ficção científica e terror barato, numa mistura de surfmusic com psychobilly e, às vezes, com uma pitada de Henry Mancine. Sua formação tem variado através dos anos. Atualmente o line-up é composto pelo guitarrista e líder Oleg Gitarkin, Denis “Kaschey” Kuptsov, na bateria e a bela (um mulherão de cair o queixo) baixista Zombie Girl (Svetlana Nagayeva) com seu visual pin-up. Apesar de uma sonoridade simples, a música deles é recheada de efeitos eletrônicos e temperada com samples de filmes clássicos da Sci-Fi e Trash Horror dos anos 50 e 60. A história do Messer Chups começou há mais de 15 anos em São Petesburgo (antiga Leningrado), na Rússia, a partir de uma banda chamada Messer für Frau Müller (faca para a senhora Muller – não me perguntem por que uma banda russa tem nome alemão, porque eu também gostaria de saber), que fazia um som (segundo eles mesmos) psycho-hardcore, com elementos do psychobilly. Os integrantes do grupo foram saindo um a um até que, em 1994, sobrou apenas o fundador Oleg Gitarkin. Decidido a mudar o estilo do som, ele se juntou com outro Oleg, Oleg Kostrow, do grupo Fantom, e juntos remontaram o Messer für Frau Müller desenvolvendo um delirante “sample-a-delic” musical. Em 1998, Kostrow foi morar em Moscou e Gitarkin em Hamburgo, na Alemanha. Como a continuidade da parceria ficou complicada, então ambos embarcaram em projetos solos. Kostrow lançou um CD batizado com seu próprio nome e Gitarkin chamou o seu novo projeto de Messer Chups (Nozhik Chups, em russo). O messer, em alemão, quer dizer faca (lâmina) e o Chups, vem da marca de pirulitos Chupa Chups. Segundo o cara, a idéia por detrás do nome é de que a música ainda mantenha alguns elementos de doce ingenuidade, embora o conteúdo abaixo dessa crosta açucarada seja tão bizarro quanto qualquer coisa. Entendeu? Nem eu, mas creio que esta seja a intenção do nosso “herói”.




A diferença maior entre a música dos dois Olegs é que Kostrow usa mais samples de cartoons (desenhos animados) e o seu som é mais digerível do que o de Gitarkin. A música do Messer Chupe utiliza um punhado de samples dos filmes de trash horror e outros de estilo B ritmados à surfmusic. Gitarkin toca guitarra, baixo, teclados e outros instrumentos e foi influenciado por antigas películas de terror italianas e americanas, sendo um obcecado por vampiros e monstros. Sua música está recheada de trechos retirados dessas películas. O Messer Chups faz uso do computador para combinar esses samples com a surfmusic e também antigos sintetizadores análogos soviéticos obtendo um resultado bem original. No line-up inicial do Messer Chups, Gitarkin tocava o baixo e era acompanhado pela produtora musical alemã Annette Schneider, que pilotava o sintetizador. Um ano depois ele retorna para São Petesburgo e a idéia de gravarem algo juntos num estúdio ficou difícil, mas Annette enviou alguns tapes para Guitarkin e dessa forma nasceu o primeiro trabalho do Messer Chups' chamado Monster and Monster (Chudovishe i Chudovishe), lançado como fita cassete em 1999. O som chegou aos ouvidos do Oleg Tarassov (sim, agora são três Olegs envolvidos na história!) que assumiu a função de produtor e resolveu lançar o trabalho em CD pelo seu selo, a Solnze Records. Mas quando começaram o processo, Gitarkin havia composto uma série de músicas novas para incluir no álbum e quando Tarassov examinou as canções, resolveu mudar os planos e eles decidiram usar as músicas em um novo disco. Chamaram então, o tecladista Igor Vdovin, mais alguns músicos convidados e regravaram as músicas antigas e as novas para criar o primeiro CD do Messer Chups: Miss Libido 2000, cuja sonoridade ainda estava muito próxima a do Messer für Frau Müller, porém mais influenciada por um estilo “cartoon music” do que “vampire trash”, contundo já ficava evidente o caminho que Gitarkin iria seguir. No verão de 2000, ele reuniu as músicas para o segundo CD, Bride of the Atom, com Vdovin tocando em algumas faixas. Miss Libido 2000 é um bom trabalho, mas Bride of the Atom é infinitamente mais polido, os samples são mais bizarros e menos ingênuos (incluindo toques de telefones, mulheres gritando e homens grunhindo), com a música mais misturada a elementos eletrônicos. Aqui a fixação de Gitarkin por monstros e vampiros começava a ficar mais evidente.

Em 2002, enquanto preparavam o novo disco, o produtor Oleg Tarassov se reencontrou com a música Lydia Kavina, de quem ele havia visto uma apresentação anos antes na Alemanha. Kavina é sobrinha-neta de León Theremin, o inventor do *teremin: um dos primeiros instrumentos musicais completamente eletrônicos e que foi projetado para ser tocado sem precisar de contato, pois é executado movimentando-se as mãos no ar. (Uma boa amostra do uso do teremin pode ser vista no filme do Led Zeppelin, “The Song Remains the Same”: durante a execução de “Whole Lotta Love” Jimmy Page usa o aparelho para produzir alguns efeitos sonoros.) Sendo descendente direto de Theremin, não é por acaso que Kavina toca o instrumento. Tarassov achou que seria uma boa idéia convidá-la para participar do próximo disco da banda: Black Black Magic. A combinação de surfmusic com aquele estranho instrumento, mais os samples, resultou em uma sonoridade única e diferente de tudo que se possa imaginar e Kavina tornou-se um membro oficial do Messer Cups. Esse disco conseguiu excelentes críticas para a banda, chamando a atenção de vários selos e músicos, incluindo o duo americano**Tipsy, que a convidou para compor uma faixa que seria gravada no seu CD: Tipsy Remix Party. O Messer Chups ficou mais do que feliz em aceitar o convite, oferecendo um take maravilhoso de “Hey!”. Pela Solnze Records foi lançada uma compilação de Gitarkin/Kostrow chamada Hyper Utesov Presents em que estão os dois Olegs apresentando-se sob vários pretextos, inclusive, o Messer Chups. Aproveitando os ventos favoráveis, a banda lançou o seu quinto CD, The Best of Messer Chups: Cocktail Draculina, em dezembro de 2002. Apesar do título, esse não é um CD de “melhores momentos”, mas sim um trabalho de releituras e remixagens das suas canções.

Em seguida ao lançamento de Black Black Magic, o Messer Chups embarcou em turnê, apresentado-se em São Petersburgo e nos Estados Unidos. Depois foram convidados para um giro na Suíça e Alemanha que coincidiu propositadamente com o lançamento de Cocktail Draculina. No último minuto, Igor Vdovin decidiu deixar a Messer Chups, quase condenando a turnê mesmo antes de seu início. Oleg Tarassov pensou em uma solução rápida e convidou Oleg Kostrow para acompanhá-los nessa turnê, reunindo os antigos parceiros da Messer für Frau Müller. Mesmo assim, a turnê pela Alemanha desmoronou e os dois Olegs decidiram, então, se apresentar na Suíça como um duo. Lydia Kavina que estava por lá fazendo algumas apresentações solos e também com uma orquestra, se juntou a eles para alguns dos espetáculos na Suíça. Ela também participou dos dois discos seguintes: Vamp Babes (2002 – para mim, o melhor disco do grupo com a participação dela) e Crazy Price (2003), este último foi produzido sob a chancela de Mike Patton (ex frontman do Faith No More), através da Ipecac Recordings e ainda contou com Maria Kapelova tocando harpa, mais um elemento inusitado na música do Messer Chups.



Em 2004 Svetlana Nagayeva, a glamorosa Zombie Girl, assumiu o baixo e no ano seguinte eles lançaram Hyena Safari, outro belo apanhado de experimentações e colagens sonoras ritmados pela surfmusic. Após um silêncio de três anos, em 2007, saiu Zoobie Shopping, também com sua usual mistura de surf guitar, trechos de filmes de vampiros e monstros e samples excêntricos. Aliás, o estilo surfmusic é o que mais se sobressai nesses discos, particularmente, eu prefiro a “mistureba” mais heterogênea dos trabalhos anteriores. Nos últimos anos, o grupo tem variado constantemente em sua formação, podendo ser apenas Gitarkin e Zombie Girl, acompanhados, ou não, de um baterista e outros músicos convidados, ou ainda com a presença de antigos integrantes como Lydia Kavina e Oleg Kostrow. Em muitas dessas apresentações, eles armam um telão mostrando cenas de filmes de monstros e vampiros, em um verdadeiro espetáculo trash de áudio visual. O Messer Chups continua a evoluir a cada novo trabalho. A imaginação fértil de Gitarkin nunca cessa na surpresa e nos leva a ponderar o que ele aprontará para o próximo disco.

* Apresentado pelo próprio inventor em 1920, o teremin opera através do princípio da produção de efeito heteródino em dois osciladores de freqüência radiofônicos e consiste de uma caixa com duas antenas externas, uma que controla a altura e a outra o volume, ao redor das quais o músico movimenta suas mãos para produzir som. O teremin também tem versões com teclado e com espelho, como o dos instrumentos de corda. (Wikipédia)

** Tipsy: banda de música eletrônica formada por Tim Digulla and David Gardner em São Francisco-CA (USA), em 1996, faz um som lounge com colagens sonoras experimentais, similar ao Messer Chups, mas em um estilo absolutamente distinto.


Fontes:
Cool and Strange Music Magazine #29 (by Cheryl Shinfield)
Site oficial:
http://www.messerchups.ru/
More Zvukov
Myspace
Wikipedia
All Music Guide
Agradecimentos especiais a Bernardo Gregori pela ajuda na tradução.





MESSER CHUPS

Messer Chups is project of Oleg Gitarkin. Gitarkin formed the band in 1998 during an extended stay in Hamburg. The original lineup was Gitarkin on bass and Annette Schneider, a German music promoter, on synths. Though amicable enough, this lineup did not work as Gitarkin and Schneider lived in different countries, leading to hellish logistics. In 1999, Gitarkin returned to St. Petersburg and found a keyboard player in Igor Vdovin, former vocalist for the band Leningrad. They toured as a duo in Russia and the United States in 2000-02. In 2003 a world-famous theremin player Lydia Kavina joined the band. She is the grandniece of Leon Theremin, the Russian inventor of the theremin, an instrument whose ghostly waw was a fixture in horror movies of the 1940s and '50s. Oleg and Lydia released together CD's – Black Black Magic, Vamp Babes Upgrade Version. Lydia participated on few tracks of most famous through licensed to Mike Patton's IPECAC Recordings album "Crazy Price". Zombie Girl came to the band in 2004.
In their music they combine surf, beats, film samples, scratchy historical recordings, loungey and cartoon sounds from the 50's and 60's. The show is combined with video from trash cult movies of the middle of the last century – Betty Page, Bela Lugosi , zombies, Russ Meyer's and Ed Wood's heroes all mixed in videocollages of the master Gitarkin.
The band’s instrumental rock is hard to neatly categorize, it’s safe to say that it would be enjoyed by fans of rockabilly, horror punk, scratchy surf records, Italian slasher films, My Life With the Thrill Kill Kult, pulp fiction, lounge music, Ed Wood, the theremin, the Cramps, Russ Meyer movies and the theme song from “The Addams Family.” Gitarkin incorporates all of these elements and more, layering samples from Russian B-movies over weird vintage keyboard chirps and groovy horn loops. Messer Chups have already released over a half dozen albums and a greatest hits collection, which is a little extreme unless you’re a diehard fan of this kind of stuff.
The trashy sci-fi horror sound of Messer Chups is not very common within the context of Russian rock music. The reason for this is the good old cold-war/iron curtain commie agenda. The majority of Messer Chups' musical and visual aesthetics come from trashy western pop-culture of the past century. This includes horror/sci-fi b-movies from 1930's through 1970's, as well as music such as surf (The Ventures, Dick Dale, Trashmen), big-band lounge (Henry Mancini, Les Baxter, Martin Denny) and rock n' roll of the 60's. Since the Ipecac release, Messer Chups has slowly developed a cult following around the world as one of the most unique and genre-defiant bands.

From -> http://www.morezvukov.nl/messerchups.html














Vamp Babes (2001)






Zombie Shopping (2007)



segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Dezembro Frank Zappa




Bem amigos este foi o nosso Dezembro Frank Zappa, espero que vocês tenham gostado, pois deu um trabalhão. Os discos aqui postados foram selecionados com critério para oferecer o melhor da minha coleção. Eu gostaria de ter postado mais coisas, mas nesse espaço de tempo isso foi o melhor que eu pude fazer.

Grande abraço, feliz ano novo!
WOODY




Dezembro Frank Zappa


Well fellows, that was our Dezembro Frank Zappa and I hope that you´ve enjoyed, because it was a hell work. The albums posted were selected to offer you the best of my collection. I would like to have posted more, but the time was short.

Best Wishes and Happy New Year!!!
WOODY

As Dialéticas Negativas das Habilidades do Poodle






Os textos aqui apresentados sob o título de As Dialéticas Negativas das Habilidades do Poodle são de uma tradução do português Pedro Marques para o livro de Ben Watson - The Negative Dialectics of Poodle Play. Na verdade, o título que ele usou foi Dialécticas Negativas das Habilidades do Caniche, mas como muitos brasileiros não iam entender o que é Caniche, fiz a adaptação do título para o português do Brasil. Esta foi a única alteração que fiz trabalho dele, evitando alterar o original. No entanto, só publiquei algumas partes, pois o trabalho é extenso e complexo, portanto não caberia todo aqui. Mas se você leu e gostou, aproveite para ler o resto, visite o blog Fora de Cena e descubra muito mais sobre este artista genial que foi, e ainda é, Frank Zappa!

Frank Zappa - Project-Object [1978]




Este é um disco que comprei na época do lançamento e que ripei especialmente para este Dezembro Frank Zappa, como o meu equipamento não é dos mais sofisticado vão aparecer alguns estalos e o chiado da agulha, mas a gravação é muito boa (A) e isso não será nenhum estorvo. O LP foi lançado em 1980 trazendo a gravação do show realizado no The Mid Huson Civic Center, de Nova Iorque-EUA, em 1978. É uma produção do selo Mud Shark que imprimiu 3200 cópias. Em 1981 essa gravação foi re-lançada em picture disc com o nome de "Moe's Vacation". Na banda estão FZ, Denny Walley, Ike Willis, Arthur Barrow, Tommy Mars, Peter Wolf, Ed Mann e Vinnie Colaiuta. Um discaço, altamente recomendado!






Frank Zappa - Project-Object


This is a record of The Mid Huson Civic Center show, in New York (1978/09/21), released july 1980 in 3200 pressed by the Mud Shark bootleg label. This LP was re-released in 1981 & again as an import picture disc titled "Moe's Vacation". The line-up was FZ, Denny Walley, Ike Willis, Arthur Barrow, Tommy Mars, Peter Wolf, Ed Mann e Vinnie Colaiuta. The quality of sound is very nice (A). Highly recommendable!







An Evening with ... Frank Zappa & Captain Beefheart [1975]



Este disco é praticamente uma segunda versão do Metal Man Has Hornet's Wings, pois também é um registro do radio show de KWST na Austrália, mas a edição é uma pouco diferente, assim como algumas músicas. As faixas 1, 3, 5, 10-12, 15, 19 & 20 foram oficialmente lançadas nos álbuns Bongo Fury (1975), The Lost Episodes (1996), Mystery Disc (1998) e Captain Beefheart's Trout Mask Replica (1969). Na dúvida, eu recomendo os dois.






An Evening with ... Frank Zappa & Captain Beefheart


This bootleg is similar at the Metal Man Has Hornet's Wings, but it’s a little bit different. The set list is not the same and some musics are different too. Tracks 1, 3, 5, 10-12, 15, 19 & 20 have been officially released on Bongo Fury, The Lost Episodes, Mystery Disc and Captain Beefheart's Trout Mask Replica. If you don’t know how you’ll be to choice. I recommend both.

Frank Zappa - Tiny Is As Tiny Do [2005]



Este disco veio de um blog alemão que eu não lembro o nome, é o registro da apresentação de 17/Set/1984, no Palais Omnisports de Bercy, em Paris. A gravação, realizada da platéia, captou o concerto na íntegra (130 min.) e a qualidade do áudio é surpreendentemente boa: A-. A capa, como de costume nos bootlegs, é bastante simples, mas foi bem trabalhada e é até sofisticada perto da grande maioria dos piratas que rolam por aí. Segundo o nosso desconhecido amigo germânico, o show rolou numa atmosfera genial em Paris, com o Zappa detonando. Um espetáculo de ponta, com solos extraordinários do mestre para sorte daqueles que estavam lá e tiveram a oportunidade vivenciar isso em 1984. Aos que não conseguiram estar presentes, resta o consolo deste bootleg!
Agradecimento especial para Carlos “Carlão” V. Assumpção pela tradução do texto em alemão.







Frank Zappa - Tiny Is As Tiny Do

Der nächste Zappa-Bootleg im und aus dem Jahre 2005.
FRANK ZAPPA in Paris, Palais Omnisports de Bercy, 17-Sep. 1984
Geniale Stimmung in Paris, Zappa gutgelaunt "Hoyjaaaaa!!!" ... und dazu ein Spitzenprogramm mit teilweise ungewöhnlichen Soli des Meisters. Glückwunsch dem, der 1984 dabei war und das erleben durfte. (Zappa schien den "Winos" endgültig verziehen zu haben ;-)
Komplettes Konzert auf Doppel-CD.
Sound: A- ... Audience(?)
Die Covergestaltung ist etwas minimalisiert worden, also keine Doppelfaltcover mit mehrfacher Bebilderung mehr. Schade eigentlich, es wurde alles auf das rein Wesentliche beschränkt.
Aber trotz alledem: lieber so als die ausführliche Geschmacklosigkeit einiger MMM-Cover.

Eine Pressung aus Japan. (Keine MMM-Massenware!!!)
Label: GUITAR MASTER - 002/003, Erscheinungsdatum/released April.05
Gesamtlänge: 117:40 min





As Dialéticas Negativas das Habilidades do Poodle #8



FREAK OUT!





A MGM/Verve recusou-se a lançar discos de uma banda cujo nome era evidentemente uma contracção de “motherfuckers”, então os Mothers passaram a chamar-se Mothers of Invention – “por necessidade”, como diz Zappa. O novo nome continha a crítica de Zappa às noções de liberdade, uma recusa materialista do idealismo que percorre todo o seu trabalho como uma sombra negra. Arnold Schoenberg afirmou: “A arte não nasce da habilidade, mas sim da necessidade.”
Os Mothers eram compostos pelos Soul Giants – Collins, Estrada, Black – e o brilhante guitarrista Elliot Ingber que mais tarde apareceu com Captain Beefheart sob o pseudónimo Winged Eeel Fingerling. Baseando-se nos conhecimentos de marketing que possuía, Zappa assegurou que a MGM/Verve não afastava os Mothers of Invention.


Se tivéssemos entregue tudo à editora não tínhamos vendido discos. Eles pensaram que éramos uns excêntricos. Uma novidade-a-go-go. Mas não éramos. Tivemos de lhes mostrar formas de ganhar dinheiro com o nosso produto. Desde o princípio que foi difícil convencê-los daquilo que estávamos a falar. Tivemos de os fazer perceber. Primeiro que tudo, eu quis tomar conta da publicidade. Mais tarde, deram-me grande parte das coisas para fazer.
A MGM não tinha ideia de como fazer publicidade underground em certos semanários que podiam ser de esquerda ou ter orientação hippie, qualquer coisa que não se parecesse com os meios instituídos. Fizemos umas sessões especiais – apelando à curiosidade de certas pessoas.



De acordo com o catálogo de vendas da Record World, a MGM estava indubitavelmente a tentar vender os Mothers: “A MGM vai longe com Freak Out! A filial nova-iorquina da MGM lançou uma campanha promocional em massa, que já vai bem encaminhada, para fazer explodir os seus novos colegas musicais do freak-out, os Mothers of Invention.”
Um memorando interno de Jack Maher da MGM para Mort Nasatir, torna claro que a capacidade de Zappa para falar em termos de “produto” impressionou.


28 de Agosto, 1967.
Uma das melhores ideias que Herb Cohen e Frank Zappa tiveram desde que começaram a fazer publicidade, foi o uso dos painéis de publicidade em Sunset Trip.
Fiz um contrato com a Grant Advertising para usar o painel durante os meses de Outubro e Novembro. O preço é $3,200 pelos dois meses. No painel aparecerão todos os discos dos Mothers of Invention desde Freak Out! até We’re Only in It for the Money.




Mais tarde, ao ser acusado de produzir música comercial, Zappa respondeu que sempre tinha tido esperanças: julgara que Freak Out! ia ser um sucesso. James Dillon (um dos faróis da música clássica britânica que defende a “nova complexidade”) afirma que Zappa podia ser um grande compositor mas estava ligado à música rock por razões comerciais... Ao dizer isto ignora a relação dialéctica especial com o comércio que faz a música de Zappa ser tão interessante, o valor de ter alguém com uma estética da Escola de Frankfurt (alguém que compreende as tendências fascistas da indústria cultural) a operar dentro do sistema. Desejar que Zappa adira à música “correcta” é assumir que a música enquanto arte-elevada não tem ideologia, não é viciada pelo papel de garantir um “domínio elevado” à sociedade hierárquica, de fornecer um espelho para a auto-estima da classe média.
Nem a obra de Zappa irá encaixar no esquema clássico do rock: criatividade precoce seguida de vendas e conformismo. Embora muitas pessoas o tentem pregar a essa cruz. A exacta noção das vendas diz-nos tanto sobre os que acusam quanto sobre os artistas que são vilipendiados. O possível investimento espiritual nas individualidades dos artistas é inevitavelmente seguido de desapontamento, porque o que no final do arco-íris estão a arte e o produto e não a tão esperada transformação da vida quotidiana. Enquanto Zappa desenvolve, ao longo das décadas, as suas políticas pequeno-burguesas, temos de reconhecer que elas sempre existiram. As canções de Freak Out!, com todo o seu envolvimento cabeludo e as suas declarações “sem potencial comercial” eram tão comerciais quanto Zappa as conseguia fazer. Comparadas com o R&B pesado dos Muthers no Sinners & Saints (gravado no Mystery Disc do Old Masters Box One) a aproximação é melódica, inflamada, popular no sentido corrente. A banda sonora do filme Mondo Hollywood – um “documentário” titilante da cena freak de Los Angeles, feito em 1965, que devia conter uma aparição dos Mothers até Herb Cohen pedir demasiado dinheiro, obrigando a tirá-los do filme – estava perto: pop estridente/rock impetuosamente glorificado por metais e cordas.
Contudo, hoje, Mondo Hollywood parece uma resposta ultrapassada e datada do mundo do espectáculo ao rock. Freak Out! continua a ser fascinante – não por representar uma alternativa purista mas porque usa o comercialismo contra si próprio. Zappa ainda era capaz de tocar R&B agressivo e desbragado (demonstra-o em “Trouble Every Day”), mas estava demasiado fascinado pela contradição para se limitar a essa base. O olhar afectado e ameaçador de Freak Out!, uma aterradora insinuação de que algo de grosseiro se estava a passar, era brilhantemente coordenado com a organização gráfica da capa do disco e das notas: delineados para suscitar interesse a alguém tão farto da desconexão conformista da escola superior como Zappa. Um disco de blues e composições de vanguarda não conseguiria atingir o miasma de profanação alcançado pela perversão do pop inocente.


Esquece o baile de finalistas, vai à livraria e educa-te se tiveres coragem. Alguns de vós gostam de pequenos comícios animados e robôs de plástico que vos dizem o que devem ler. Esqueçam o que eu disse. Esta canção não tem mensagem. Põe-te de pé e saúda a bandeira.



A MGM viu o potencial de venda do disco e reagiu de acordo com ele. A Record World anunciou:

Bud Hayden, o executivo responsável pela promoção do disco e Tom Wilson, que produziu o embrulho de Freak Out! – dois discos pelo preço de um – já fizeram distribuição em alguns mercados extremamente receptivos e os homens da MGM estão prontos a dar mais um empurrão aos encontros desta semana.
Para cativar as pessoas foram lançados puzzles com a capa do disco.




Os Mothers tocaram no Havai, em São Francisco e apareceram no Swingin’ Time, o programa de televisão de Robin Seymour, a 19 de Julho (“O estúdio inundou-se de telespectadores que tanto diziam que eram espectaculares como horríveis,” disse Art Cevri, o coordenador de talentos) e no Club 1270 de David Prince, a 23 de Julho. A 29 de Julho, no papel de angariador de fundos do Los Angeles Free Press, Zappa organizou a GUAMBO – Great Underground Arts Masked Ball and Orgy.


Um poster desenhado ao estilo psicadélico dos cartões de saudações que Zappa usaria em Absolutely Free dizia: “Realizadores! Tragam o vosso trabalho e mostrem-no. Poetas ergam-se!” Um pequeno aviso revelava o tipo de tabus sociais a destruir. “Aviso: os nossos advogados dizem que não podemos permitir nus totais nas danças públicas.” O crítico do Los Angeles Free Press disse que o concerto não passou de “cinco músicos de federações americanas de cabelo curto, fatos pretos, camisas brancas e laços pretos” a tocar partituras de Zappa ao lado dos Mothers. O concerto perdeu dinheiro. Herb Cohen também organizou concertos no Shrine Auditorium de Santa Monica com os West Coast Experimental Pop Art Band, os Mugwumps, os Factory e os Count Five. “Psychotic Reaction” destes últimos tornou-se um exemplo bastante comemorado de punk dos anos 60.
Uma das influências mais formativas nos anos 70 foi a compilação de singles de bandas de garagem dos anos 60, Nuggets, organizada pelo crítico e guitarrista Lenny Kaye. Nos anos 80, o interesse pela breve explosão de meados dos anos 60 de grupos de brancos das faculdades, mostrou que Kaye estava apenas a aflorar a superfície; havia milhares destes grupos roufenhos, meio parvos/meio inteligentes que aprenderam as maravilhas do R&B com os Beatles e os Stones (Nuggets passou a série, com um imitador chamado Pebbles). Embora Zappa fosse conhecedor do R&B e os Soul Giants tenham passado muito tempo em clubes, muitas das músicas de Freak Out! não ficariam mal em Nuggets. Mais tarde, com a inclusão de Sugarcane Harris e Johnny “Guitar” Watson, Zappa faria mais viagens às raízes. Os Mothers eram uma banda punk dos anos 60. Se os Mothers tivessem lançado Freak Out! e depois desaparecido sem deixar rasto, seriam celebrados hoje como precursores do punk. O punk era a descoberta dos desprezados e dos ignorados – com Zappa a fazer digressões mundiais no final dos anos 70, não era muito adequado “descobrir” o seu antigo repertório (embora os ATV tenham tocado uma versão de “Why Don’t You Do Me Right”).
A primeira música de Freak Out!, “Hungry Freaks Daddy”, é dedicada a Carl Orestes Franzoni e aos “marginais da grande sociedade”. O cavernoso riff, variante daquele usado pelos Rolling Stones em “(I Can’t Get No) Satisfaction”, ocupa, estilisticamente, o papel central na canção. O solo de guitarra é tocado em tempo dobrado, uma técnica que também tornou a versão de “Louie Louie” de Kingsmen tão interessante. O som fanhoso, tipo hangar de aviões (outro recurso punk), é apoiado por vozes agrestes e ríspidas de Ray Collins e Zappa. Apesar da feroz e vertiginosa violência do solo de guitarra, o arranjo – vibrafone e fanfarra – é totalmente Mondo Hollywood. Algumas restrições financeiras fizeram com que os metais fossem tocados num brinquedo musical – o que dá à música uma agrura ofensiva e barata.
Tal como o jazz, o rock possui uma relação peculiar com Tin Pan Alley. O blues e o folk foram revisitados de modo a tirar sentimentalismo e falsidade à música, mas a necessidade de organizar material para a indústria cultural – apresentações sucessivas, canções de sucesso – significava que se tinha de fazer uma aprendizagem dos Gershwins e de Cole Porter. Paul McCartney foi particularmente astuto neste ponto de vista, escrevendo melodias que vinham directamente da Broadway. O R&B da Costa Oeste relacionava-se com Hollywood através dos seus “Sinatras sépia”: Nat King Cole, Charles Brown, Young John Watson (antes de tocar guitarra, Johnny “Guitar” Watson tocou piano e gravou um disco devastador para a Chess). O peso do blues nestas vozes transforma as harmonias espalhafatosas de Tin Pan Alley em qualquer coisa de grande efeito. Zappa odiava o trabalho ocioso e a música ociosa mas não podia evitar a herança de Sinatra quando se tratava de descobrir cantores: as vozes de doo-wop que tanto admirava inspiraram frequentemente os sons melosos das vogais de Sinatra.
Em “Ain’t Got No Heart” e “How Could I Be Such A Fool”, Ray Collins soa sinistramente como Jim Morrison. Aqueles que vêem os Mothers como uma versão californiana da Bonzo Dog Band poderão interpretar isto como paródia, mas convém lembrar que estas músicas foram gravadas um ano antes do primeiro disco de Morrison com os Doors. Zappa conhecia Morrison socialmente – e desaprovou o seu consumo de drogas, apelidando-o de “espécie de miúdo mimado das escolas académicas” – mas Morrison não era suficientemente conhecido em 1966 para merecer sátira. É mais um caso de desenvolvimento paralelo. A prestação vocal de Collins nestas canções – narcisista, portentosa, petulante – faz a Sinatra o que James Dean fez a Humphrey Bogart, substitui murmúrios de adultos por um olhar escarninho adolescente. Apesar de tudo, está mais perto de Tin Pan Alley do que do R&B. Morrison teve problemas para relacionar a sua voz com os pesados blues que admirava, e fê-lo usando uma pose sinatriana, o vocalista actor, em vez de apenas cantor. Collins faz a mesma coisa, só que, como se trata de música composta por Zappa, toda a representação está à beira de cair no ridículo: risos niilistas infiltram-se em todos os movimentos. Os Doors continuaram o projecto, fazendo discos com a nitidez de realizadores de cinema. A necessidade de uma estrutura levou os Doors a ligarem-se às velhas formas: ouvir José Feliciano a fazer sucesso com “Light My Fire” é realmente uma experiência punitiva para os apaixonados pelos Doors e a sua rebelião académica. Só Iggy Pop e os Stooges conseguiram transportar o rock para além da normal mente adolescente sem usar a ironia. Freak Out! usa ironia: toneladas. Há tanta ironia que se calhar a música é feita só disso. As notas de roda pé estão cheias de observações auto-depreciadoras: “Motherly Love” é uma “parvoíce vulgar”, “Any Way the Wind Blows” é “absurda e vulgar”, “Go Cry on Somebody Else’s Shoulder” é “muito oleosa. Não a devias ouvir. Devias usá-la no cabelo.” “Any Way the Wind Blows” foi incluída porque “em poucas palavras, é... como hei-de dizer isto?... é intelectual e emocionalmente ACESSÍVEL para ti. Ah! Talvez esteja mesmo à tua frente!”
“Ain’t Got No Heart” é uma canção de recusa que inicia uma longa lista de canções de negação do amor que põem Zappa e as feministas em rota de colisão. Nas notas, Zappa chama à canção “um resumo dos meus sentimentos sobre as relações sexuais-sociais”, Mas durante o casamento com Gail Sloatman (que durou até à sua morte) tais canções de negação do amor não pararam mais. Zappa afirma que as canções de amor são más para a saúde mental e fabricam ideais que não podem ser satisfeitos: “Ain’t Got No Heart” não é tanto um resumo dos sentimentos pessoais de Zappa como uma deliberada correcção dos clichés das músicas de amor. Zappa disse mais tarde que acreditava no amor, mas não no amor da Madison Avenue, uma afirmação que reconhece imediatamente a colonização comercial da vida privada que torna certos gestos tabus da arte radical. “How Could I Be Such A Fool” tem notas técnicas sobre o uso de diferentes ritmo.


É baseada num ritmo nanigo modificado. Chamamos-lhe Valsa Motown. Está sempre em 3⁄4 mas muda nos acontecimentos que ocorrem em cada secção. Como adolescente americano (como americano), para ti, isto não te diz nada. (Sempre me perguntei se seria capaz de escrever uma canção de amor.)




Zappa tenta educar os ouvintes para a natureza representacional da música pop, o facto de que é uma construção e não a vida real. Os constrangimentos musicais e emocionais do pop (comparados com os da música clássica ou do R&B) significam que estas ambições resultam em tensão: a distância entre as ideias de Zappa e as formas com que se deve lidar só podem ser percorridas no absurdo: As letras são frequentemente uma série de clichés que não jogam uns com os outros.


Como é que eu consegui ser tão parvo
Como é que eu consegui acreditar em todas as mentiras que tu me dizias...
Mas vai chegar a altura em que te vais arrepender do modo como
Me trataste como se eu fosse um parvo e não soubesse
As vezes que me mentiste sobre o teu amor por mim*




O narrador é parvo ou não? Ao conservar alguma dignidade para si próprio, o narrador fica atado em nós lógicos. São procedimentos como este, tentativas para fazer com que as formas convencionais das canções se auto-destruam – em vez do ódio pelas mulheres de que é acusado – que explica a frequência das suas canções de negação do amor.
A canção de amor simboliza de muitas maneiras a relação do cantor com o seu público: ao romancear o amado, o cantor expressa uma atitude em relação ao consumidor. Em relação a este assunto, a ofensa de Zappa, reiterada pela sua falta de atenção para com os argumentos feministas (uma falta de atenção que provavelmente o torna mesmo sexista – em termos de debate liberal), permite-lhe profanar as poses usuais, profanar como nunca foi feito no pop. As canções de negação do amor fazem parte da sua desconstrução formal.


Por que é que eu havia de deitar fora a vida “fixe” que tenho?
Porque, minha querida, aquilo que tens para mim não é aquilo de que eu preciso**




Mesmo em 1966, a palavra “groovy” ("fixe") aparece com aspas, enfatizando o modo como o branco se apoderou de uma palavra negra (um incómodo que Simon & Garfunkel perpetuaram em “Feelin’ Groovy”). As canções de Zappa são possibilidades de sentimentos: Zappa é um animador e não um cantor-escritor de canções. Isto explica a sua disponibilidade para usar outros cantores, é parte da sua estratégia para alcançar uma ressonância ambivalente para a chamada auto-expressão.
“You’re Probably Wondering Why I’m Here” expressa com agressividade nervosa o paradoxo da arte numa sociedade de bens de consumo.


Mas se calhar não sou eu que o devo dizer
Eles aqui só me pagam para tocar
Estás provavelmente a pensar por que é que eu estou aqui
E eu também, eu também***




“Não que isso te faça uma grande diferença”, diz Zappa no final. A canção provoca um efeito parecido a uma peça de Alfred Jarry ou Eugène Ionesco. Na secção de “notas relevantes” do disco, David Anderle escreveu: “Acho que a vossa aproximação à música coincide com as intenções exemplificadas com mais veemência nos aspectos “tragicómicos” do “teatro do absurdo”.
Samuel Beckett era considerado pelos críticos, juntamente com Jarry e Ionesco, “teatro do absurdo”, e para Adorno o exemplo perfeito de modernismo literário. O desgosto de Adorno para com o aerodinamismo dos lucros da música, as canções de sucesso da indústria cultural, pôs de parte a ideia de que alguém podia embarcar em tal ideia e mesmo assim funcionar dentro da indústria. Claro, ainda há pessoas que se refugiam nos seus confortáveis abrigos contra a “vulgaridade” dos meios de massa, mas cada vez mais descobrem que no seu isolamento não conseguem compreender os movimentos da própria arte superior contemporânea, acabando por ser bobos da subsecção da indústria cultural que recicla trabalhos artísticos do passado. Adorno não era assim: o poder da sua análise advém de uma resoluta visão da totalidade social (ou antes, uma totalidade que ele só podia ver como anti-social, administrada e opressiva). Mantendo viva, no mercado, uma consciência social cercada por prateleiras classificadas de produtos de consumo: o projecto iniciado por Freak Out! Isto foi considerado impossível por Adorno, mas o facto é que ele também considerou as políticas dos trabalhadores impossíveis.
Há outros sinais de continuidade entre o modernismo da arte superior e os Mothers of Invention para além das referências ao teatro do absurdo. A mais importante foi o aforismo de Edgard Varèse: “Os compositores contemporâneos recusam-se a morrer!” Esta frase é de um manifesto da Associação Internacional de Compositores, grupo fundado por Varèse no Liberty Club, na 40ª Rua, no Leste de Nova Iorque, a 31 de Maio de 1921. Em Julho de 1921 declararam:


O compositor é o único dos criadores contemporâneos a que é negado um contacto directo com o público. Quando o seu trabalho acaba ele é posto de parte e surge o intérprete, não para tentar compreender, mas para o julgar impertinentemente. Ao não encontrar nenhum rasto das convenções a que está habituado, irradia-o dos seus programas, acusando-o de ser incoerente e ininteligível.
Em qualquer outra área o criador entra em qualquer forma de contacto directo com o público. O poeta e o romancista através da comunicação de uma página impressa; o pintor e o escultor, as portas abertas de uma galeria de arte; o dramaturgo, a liberdade de um palco. O compositor depende de um intermediário, de um intérprete.
Como resposta à procura do público, é verdade que as organizações oficiais colocam nas programações os trabalhos novos rodeados por nomes já estabelecidos. Mas tais trabalhos são cuidadosamente escolhidos do meio das tímidas e anémicas produções contemporâneas, deixando por ouvir os compositores que representam o verdadeiro espírito do nosso tempo.
A morte é um privilégio dos vencidos. Os compositores contemporâneos recusam-se a morrer. Perceberam a necessidade de se associarem todos e lutar pelo direito do indivíduo a assegurar uma livre e justa apresentação do seu trabalho. É de uma vontade como esta que nasceu a Associação Internacional de Compositores.
O objectivo da Associação Internacional de Compositores é centralizar os trabalhos diários, agrupá-los em programas inteligíveis e organizadamente delienados e, com a ajuda altruísta de cantores e instrumentistas, apresentar esses trabalhos de modo a que revelem o seu espírito fundamental. A Associação Internacional de Compositores recusa-se a admitir qualquer limitação, tanto de vontades como de acções. A Associação Internacional de Compositores desaprova quaisquer “ismos”; nega a existência de escolas; reconhece apenas o indivíduo.




Isto tem a ver com a sobrevivência económica do compositor, não é um princípio estético, o que explica a ênfase dada ao indivíduo (os compositores e os músicos nunca gostam de ser ligados a escolas, porque isso não melhora as suas carreiras; apenas a fama individual que emana dos concertos). Zappa levou este individualismo às últimas consequências e alterou o plural “compositores contemporâneos” para o singular.

* How could I be such a fool / How could I believe all those lies you told me... / But there will come a time and you'll regret the way / You treated me as if I was a fool and didn't know / The many times you lied about your love for me
** Why should I throw away the groovy life I lead? / Cos baby what you got is sure ain't what I need
*** But maybe that's not for me to say / They only pay me here to play / You're probably wondering why i'm here / And so am I, so am I



A POLÍTICA EM FREAK OUT!



Como tudo o resto – o uso irónico de arranjos do mundo do show business, o tributo à Sagração da Primavera, a afronta ao teatro do absurdo – Freak Out! também revela uma aguda compreensão das relações raciais. “Trouble Every Day” é um protesto em verso com rima* que segue o exemplo de Bob Dylan:


A não ser que o teu tio tenha uma loja
Sabes que cinco em cada quatro
Não farão mais
Que olhar os ratos que cruzam o soalho
E compor canções sobre ser pobre
Sopra na harmónica, miúdo*




A referência sarcástica aos blues na última frase, reúne perfeitamente a ambivalência de Zappa em relação à auto-expressão. A frase reaparecerá mais tarde em “Didja Get Any Onya” de Weasels Ripped My Flesh, enquanto se ouve grunhidos de porco a acompanhar um piano de salão. “Trouble Every Day” fala dos tumultos de Watts com uma integridade nunca ouvida no pop (até as primeiras canções de Dylan tinham tendência para ser poéticas e difusas, um vazio que durante o período cristão se tornou útil, quando as reinterpretou como declarações religiosas). Zappa mantém a forma à distância de um braço enquanto se apercebe da distância racial e política que o separa dos manifestantes.


E ele disse que era bem feito
Porque alguns deles eram brancos
E é o mesmo por toda a nação
Discriminação a preto e branco**




Por estas frases poderá parecer que Zappa adopta uma “imparcialidade” liberal (que, dada a realidade da opressão racial negra nos Estados Unidos, pode ser uma forma de racismo), mas a canção desenvolve um comentário sobre os tumultos que compreende a base económica da opressão. Sabe-se de que lado ele está. Zappa combina raiva e auto-defesa formulando de modo inesquecível:


Sabem, eu não sou preto
Mas há muitas vezes
Em que gostava de dizer que não sou branco***




Esta escrupulosa atenção para com as atitudes raciais é similar ao uso iconográfico que Zappa faz do cliché dos blues. Evita a presunção de, por exemplo, John Mayall quando tenta “cantar blues”. As políticas de Zappa – racionais e cáusticas – nunca possuíram o mesmo protesto absolutista dos Panthers (pretos ou brancos) ou dos situacionistas. Freak Out! possui o mesmo tipo de urgência e mordacidade, e fomenta tais expectativas: arte revolucionária oferecida por um não-revolucionário. Os estudiosos radicais ficaram desapontados pelas suas recentes declarações, mas se atentarmos pormenorizadamente vemos que desde Freak Out! até às “Guerras Porno” a linha de Zappa foi notavelmente consistente. Só os que sentimentalizam a arte como forma de política não conseguem perceber isto. As habilidades do caniche tiram lições políticas das ressonâncias simbólicas da arte de Zappa nas hierarquias da cultura capitalista e não nas suas entrevistas.
Um aspecto importante de Freak Out! ganhou o respeito de vários músicos de estúdio (denominados nas notas como “Auxiliares dos Mothers”), provando que este guitarrista de rock ‘n’ roll era capaz de escrever música que requeria destreza. Lowell George fez alguns comentários reveladores.


No trabalho, o Frank era um homem muito exigente. Escrevia partituras óptimas. Havia uma grande piada: os músicos de estúdio de Los Angeles, que eram todos perfeitos, foram a uma sessão dos Mothers of Invention a pensar que ia ser uma barrigada de riso. Vestiram-se todos a gozar: bermudas, ténis com os pés trocados e coisas assim. Foram à sessão e as pautas eram tão difíceis que não as conseguiam tocar. Ficaram todos assustados e saíram a dizer “Este tipo não é calão nenhum”. Nesse momento toda a gente mudou de atitude.




Zappa fez contactos importantes. Johnny Rotella (sopros de madeira) tocou mais tarde em Lumpy Gravy e The Grand Wazoo e Jerome Kessler electrificou o violoncelo para a digressão de Wazoo em 1972. Benjamin Barrett foi retratado como o contratador “Ben-Hur Barrett” na história em The Grand Wazoo; mais tarde o trombonista Ken Shroyer roubou-lhe o papel. Zappa também se pôs à prova nesta sessão – eram o tipo de músicos que combinavam a necessária mordacidade de conseguir ler partituras e improvisar ao mesmo tempo, exactamente aquilo que precisava para criar a sua terceira corrente.

* Em inglês, é claro: Unless your uncle owns a store / You know that five in every four / Won't amount to nothing more / Than watch the rats go across the floor / and make up songs about being poor / Blow your harmonica, son
** And he said it served them right / Because a few of them were white / It's the same across the nation / Black and white discrimination
*** You know people I ain't black / But there's a whole lot of times / I wish I could say I ain't white




Texto retirado do blog Fora de Cena, por Pedro Marques, que traduziu o livro de Ben Watson - The Negative Dialectics of Poodle Play. A tradução é em português de Portugal e por isso algumas palavras podem soar estranho, como o próprio título traduzido como: As Dialécticas Negativas das Habilidades do Caniche. O que no Brasil é: As Dialéticas Negativas das Habilidades do Poodle.