Foi em setembro de 1978 que conheci Larry Coryell, me lembro bem da data porque foi nessa época que aconteceu o maior e melhor evento jazzístico realizado no país até hoje, o São Paulo-Montreux Jazz Festival (obra de Maluf – não gosto do cara, mas nessa, ele me agradou muito). Entre os dias 11 e 18, sessenta mil pessoas foram ao Palácio das Convenções no Anhembi para conferir de perto uma constelação de estrelas internacionais como John McLaughlin, Tony Smith, Dizzy Gillespie, Taj Mahal, Patrick Moraz, Chick Corea, Joel Farrel, Stan Getz, Peter Tosh, Al
Jarreau, Benny Carter, George Duke, Etta James, Ray Brown e outros, além dos brasileiros Helio Delmiro, Hermeto Paschoal, Milton Nascimento, Nivaldo Ornellas, Raul de Souza, Djalma Correa, Egberto Gismonti, Zimbo Trio, Wagner Tiso, Victor Assis Brasil, Luiz Eça, Márcio Montarroyos e mais outros tantos. No meio desse monte de feras, estava uma dupla de guitarristas, até então desconhecida por mim: Larry Coryell & Philip Catherine (que mais tarde substituiria Jan Akkerman no Focus). Me desculpem a expressão, mas PUTA QUE O PARIU! Os caras fizeram um show para não dever nada a nenhum dos nomes citados aí em cima, na verdade fizeram uma das melhores apresentações do festival, não só na minha modesta opinião, como também da tal crítica especializada. Saca só o que foi publicado na extinta Revista POP nº 73, de novembro de 1978:
Quem conhece o LP Twin House (1976), primeiro disco da dupla Larry Coryell/Philip Catherine, sabe que poucas vezes o mundo do jazz assistiu a um "casamento" artísticotão perfeito. E, se o dito popular "os opostos se atraem" também é válidopara os casamentos artísticos, eis aí a explicação para o brilhante trabalho que esses dois garotões guitarristas vêm desenvolvendo nos últimos tempos. Larry Coryell é texano mas sempre morou em Nova Iorque. Philip Catherine é inglês, de família e educação belgas. Larry é um representante típico do jazz urbano da east coast dos EUA. Philip faz o modelo jazz de vanguarda europeu, ultimamente com grande influência dos experimentalistas alemães. Larry é observador, atento e faz o gênero superstar. Philip é contemplativo, bon vivant e faz o gênero diplomata.
Do encontro dessas duas personagens antagônicas, no festival de Montreux de 1975, surgiu uma das duplas mais vigorosas do jazz atual. Tão grande foi o sucesso de Twin House - e tamanha a satisfação que ele trouxe a Coryell e Catherine - que a dupla logo tratou de continuar o trabalho através de dois novos LPs. O primeiro chama-se Splendid, é gravado em estúdio e representa uma continuação natural do trabalho iniciado em Twin House. O "segundo novo LP" da dupla foi gravado ao vivo na Alemanha, num concerto já considerado "clássico" pelos fãs da dupla. Segundo declarações de Larry Coryell, foi de longe a melhor apresentação que ambos já fizeram, e ela por sorte foi gravada na íntegra.
Nos bastidores do Festival de Jazz de São Paulo, Coryell explicou aos repórteres os motivos do sucesso de seu casamento artístico: "Eu e Philip entendemos a música de maneira completamente diferente um do outro. Nossas visões e interpretações são sempre opostas. Por isso mesmo, acho, estamos sempre ensinando alguma coisa um ao outro. O Philip colabora com toda aquela complicação cerebral do jazz europeu, e eu mostro a ele como é o blues das grandes cidades americanas. Assim, depois de brigar muito, sempre armados de violões e guitarras, acabamos criando boa música. E o público, que não é tolo nem nada, está compreendendo nosso trabalho. De minha parte, confesso que nem o Eleventh House nem o grupo de Miles Davis me trouxeram tanta satisfação pessoal e profissional quanto esses três LPs com Philip Catherine. Se foi amor à primeira vista? Bem, prefiro dizer que foi uma paixão fulminante ao primeiro acorde..."
(Por: Okky de Souza)
Na dupla, o quem mais me chamou atenção foi Larry Coryell, principalmente pela sua vertente “bluesística”. Dias depois lá estava eu percorrendo as lojas em busca de LPs do cara. Comprei dois discos Twin House e o Spaces. O primeiro com as músicas apresentadas no festival e é sem dúvida um ótimo disco, mas o segundo também é incrível a começar pela categoria dos instrumentistas reunidos, Coryell divide a guitarra com John McLaughlin e eles são acompanhados por Miroslav Vitous no baixo, Chick Corea nos teclados e Billy Cobham na bateria. O som é uma fusão incomum (pelo menos para época) de jazz e rock, pois tinha uma pegada um pouco diferente do que vinha fazendo Miles Davis e outros artistas daquele tempo. Esse álbum foi gravado em 1969, mas só lançado em 1974, é um daqueles trabalhos que precisa ser ouvido várias vezes para ser totalmente compreendido. Esse LP foi responsável por uma mudança radical nos meus estudos musicais (que nunca foram tão profundos assim, diga-se de passagem): eu estudava violão clássico com um bom professor cujo nome me foge agora. Ele vivia me fazendo estudar uma série de valsas (é, eu estava bem no começo) até que um dia levei o Spaces para ele ouvir. Na aula seguinte, o professor disse que ouviu, achou interessante, mas afirmou que aquilo não era música. Depois dessa, abandonei o curso e no dia seguinte estava me matriculando em guitarra na escola do Zimbo Trio. Atraído não exatamente por ser do renomado trio, mas principalmente pela proposta contida no nome do conservatório: Centro LIVRE de Aprendizado Musical – CLAM.
Com o passar dos anos fui descobrindo que Coryell é um músico extremamente eclético, mesclando em suas fusões musicais diferentes tendências, inclusive a música brasileira, chegando a gravar um ótimo álbum no Brasil, Live from Bahia 1991, juntamente com Marcio Montarroyos, Nico Assumpção e Dori Caymmi, trabalho produzido pelo lendário produtor de jazz Creed Taylor. Outro importante registro em parceria com instrumentistas brasileiros aconteceu em 2002, quando lançou o disco Three Guitars (também em DVD) junto com seu compatriota John Abercrombie e a paulista Badi Assad. Tive a oportunidade de ver Coryell e Badi juntos em 26 de novembro de 2005, quando ele esteve aqui para apresentações do disco Tricycles, lançado um ano antes (puts que discaço!!!). Não me lembro se foi antes ou durante a apresentação, mas Badi veio ao palco e eles tocaram sons do Three Guitars, pena que Abercrombie não estava lá. Agora, meu irmão, essa apresentação do Tricycles que ele fez com o baixista Mark Egan e o baterista Paul Wertico, foi um dos shows mais incríveis que eu já tive o prazer de assistir, eu e pouca gente, porque no mesmo dia, aconteceu o Free Jazz, ou coisa assim, com Chick Corea e isso dividiu os públicos deixando a casa meio vazia, mas posso garantir que quem foi ao Tom Brasil ver Coryell naquela noite, saiu em estado de graça. O som foi tão bom, que eu quase ignorei a apresentação do Billy Cobham Culturemix, que rolou logo em seguida. O guitarrista voltou a São Paulo este ano com Egan e Wertico para se apresentar do Bourbon Street e é claro que eu estava lá. Mais uma vez foi um grande desempenho, mesmo assim não chegou nem perto do que rolou no Tom Brasil. Bem amigos, muitos foram os discos de Coryell que me impressionaram, por isso foi difícil escolher os posts nessa extensa discografia, procurei colocar os mais significativos e mesmo assim alguns ficaram de fora, deixo aqui a minha seleção e um pouco da história desse músico incrível na esperança que vocês apreciem tanto quanto eu.
Larry Coryell nasceu em 2 de abril, na cidade texana de Galveston nos EUA. Quando criança começou a estudar piano, mudando para o violão e depois para guitarra na adolescência. Após estudar jornalismo na Universidade de Washington, ele se mudou para Nova York em 1965, onde fez a segunda guitarra para Gabor Szabo no quinteto do baterista Chico Hamilton. Todavia, em 66, ele assumiu o lugar de Szabo e logo depois gravou o seu primeiro vinil com a banda de Hamilton. Ainda em 66, ao lado de Bob Moses e Jim Pepper, ele se tornaria co-fundador de uma das primeiras bandas de jazz rock, o Free Spirits, gravando o álbum Out Of Sight And Sound, um LP raro e muito disputado por colecionadores e que não foi lançado em CD. No ano seguinte, Coryell se uniu ao grupo do vibrafonista Gary Burton, lançando três discos seminais do jazz-fusion: Duster, Lofty Fake Anagram e A Genuine Tong Funeral, todos em 1967. Em 1969 ele participou do disco Memphis Underground do flautista Herbie Mann ao lado de Roy Ayers e do influente guitarrista de free-jazz Sonny Sharrock. Naquele mesmo ano, produziu seu primeiro álbum solo batizado apenas de Coryell e depois saiu em turnê com o Jack Bruce and Friends ao lado de Mitch Mitchell e do tecladista Mike Mandel que mais tarde fundaria com ele o grupo Eleventh House, famoso na década de 70 como uma das principais bandas de jazz rock, consagrando Coryell como um mestre do estilo.
Os trabalhos realizados por Coryell na segunda metade dos anos 60, deram a ele alguma notoriedade e, durante a década seguinte ele gravou uma série de álbuns, mais de 25, trabalhando com alguns dos melhores músicos da época, nomes pesos-pesados que incluíam os guitarristas John McLaughlin, Eric Clapton, Jimi Hendrix, Paco De Lucia, Pat Metheny, Al Di Meola, John Abercrombie, Larry Carlton, John Scofield, Kazumi Watanabe, Ralph Towner, e Steve Kahn; os bateristas Billy Cobham, Elvin Jones, Steve Gadd, Lenny White, Mitch Mitchell e Tony Williams; os saxofonistas David Sanborn, Pharoah Sanders, Michael Brecker; Sonny Rollins e Steve Lacy; os trompetistas Don Cherry, Maynard Ferguson e Randy Brecker; o violinista Stephane Grappelli; os tecladistas Chick Corea, Larry Young, David Sancious e Lyle Mays; e os baixistas Charles Mingus, Miroslav Vitous, Ron Carter, Eddie Gomez, Jack Bruce, Jimmy Garrison, Charlie Haden, Steve Swallow e Tony Levin. No período entre 1979 e 1980, ele esteve em turnê pela Europa com Paco De Lucia e John McLaughlin como integrante do Guitar Super-Trio. Uma dessas apresentações, realizada no Royal Albert Hall, em Londres, foi gravada em vídeo e celebrada como “Meeting of the Spirits” (encontro dos espíritos). No entanto, o trio não teve uma vida longa e Coryell cedeu seu lugar para Al Di Meola no início de 80.
Apesar de passar os 80 se dedicando quase que exclusivamente à guitarra acústica, Coryell continuou abrindo novos caminhos. Criou um ambicioso projeto interpretando clássicos de Stravinsky e Ravel. Complicado? Talvez, mas por ocasião do lançamento de Sketches of Coryell (1996), ele comentou: "A idéia desse disco foi um 'Shut Up' N 'Play Yer Guitar (cala a boca e toca a sua guitarra), como diria o imortal Frank Zappa. Mas eu escolhi não entrar em um monte de coisas rapidamente. Em vez disso, apenas me concentrei na melodia, independente da composição.” No entanto, qualquer que seja o gênero, seja qual for a abordagem, com mais sessenta gravações sob a sua cintura, Coryell pode ser considerado um verdadeiro "Guitar Legend".
Atualmente, Mr. Coryell vive em Duchess Country, Nova York, mas continua a lecionar guitarra em tempo parcial e a fazer turnês regularmente.
Biografia traduzida do texto de Christiaan Strange encontrada no site Kiosek
Nota: eu não quis fazer alterações no texto Christiaan Strange, mas o final está meio estranho porque ele fala do disco Sketches of Coryell, fazendo parecer que este trabalho faz parte do “ambicioso projeto interpretando clássicos de Stravinsky e Ravel”. No entanto, a única música próxima de um clássico neste disco é o famoso Concierto De Aranjuez (aka A Sketch Of Spain), todas as outras são jazz. Os trabalhos relacionados à música clássica são: Bolero (1981), Bolero/Scheherazade (1982) A Quiet Day in Spring (1983, um disco de inspiração erudita, mas não é música clássica), L' Oiseau de Feu/Petrouchka (1984) e Le Sacre du Printemps (1986). A impressão que se tem é que alguém resolveu resumir o final da biografia e acabou fazendo m...
LARRY CORYELL
Larry Coryell was born 2 April, 1943 in Galveston, Texas. As a child he studied and played piano, switching to guitar (acoustic, and then electric) in his teens. After studying journalism at the University of Washington, he moved to New York City in 1965, where he played behind guitarist Gabor Szabo in drummer Chico Hamilton's jazz quintet. However, by 1966, he had replaced Szabo and later that same year went on to record his vinyl debut with Hamilton's band. Also in 1966 he co-founded an early jazz-rock band, the Free Spirits, with whom he recorded one album, 1966's rare, Free Spirit: Out Of Sight And Sound. Soon after his stint with the Free Spirits he joined vibra-harpist Gary Burton's band, recording with him three seminal albums, all of which are now long out of print. In 1969 he recorded Memphis Underground with flautist Herbie Mann whose band, at that time, included Roy Ayers and the influential free-jazz guitarist Sonny Sharrock. Also in 1969, before recording his first solo LP, he toured Europe and the U.S. with ex-Cream bassist Jack Bruce, ex-Jimi Hendrix Experience drummer Mitch Mitchell, as well as keyboardist and future Coryell side-man Mike Mandel.
Throughout the seventies he released album after album, often playing alongside the very best jazz had to offer. Some of the heavy-weights include: guitarists John McLaughlin, Eric Clapton, Jimi Hendrix, Paco De Lucia, Pat Metheny, Al Di Meola, John Abercrombie, Larry Carlton, John Scofield, Kazumi Watanabe, Ralph Towner, and Steve Kahn; drummers Billy Cobham, Elvin Jones, Steve Gadd, Lenny White, Mitch Mitchell and Tony Williams; alto sax player David Sanborn, tenor sax players Pharoah Sanders and Michael Brecker; soprano sax players Sonny Rollins and Steve Lacy, cornet player Don Cherry, trumpet players Maynard Ferguson and Randy Brecker; violinist Stephane Grappelli, keyboardists Chick Corea, Larry Young, David Sancious and Lyle Mays; and bassists Charles Mingus, Miroslav Vitous, Ron Carter, Eddie Gomez, Jack Bruce, Jimmy Garrison, Charlie Haden, Steve Swallow and Tony Levin.
In 1979 and 1980 he toured Europe with Paco De Lucia and John McLaughlin as part of a guitar super-trio, eventually releasing a video recorded at the Royal Albert Hall, London, which commemorated this "meeting of the spirits". This trio was short lived however, and he was replaced by Al Di Meola in early 1980. Throughout the 80's, although playing almost exclusively acoustic guitar, Larry Coryell continued to break new ground. And if his ambitious avant-garde interpretations of Stravinsky and Ravel are any indication, it seems clear that there is much more to this guitar-slinging virtuoso from Texas than jazz/rock fusion.
Complicated? Perhaps, but his newest album, Sketches of Coryell, should simplify things. To quote Coryell himself, "The idea of this album was to 'Shut Up 'N' Play Yer Guitar' in the immortal words of the dearly missed Frank Zappa. But I chose not to indulge in a lot of fast stuff. Instead we just concentrated on melody and whatever the composition called for." But whatever genre, whatever approach, with sixty recordings under his belt, Coryell can be considered a true "Guitar Legend". Case in point: he recently took part in a concert in Spain, spotlighting 32 of the world's finest guitarists, including B.B. King, Keith Richards, Robbie Robertson, Bob Dylan, and Les Paul. And guess what? He felt right at home.
Mr. Coryell now lives in Duchess County, New York, but continues to teach guitar part-time, and tours regularly.For Christiaan Strange's Larry Coryell Website
Larry Coryell - Inner Urge [2001]
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Larry Coryell - Live At The Village Gate [1971]
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Larry Coryell - Live from Bahia [1991]
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Larry Coryell - Monk, 'Trane, Miles & Me [1999]
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Larry Coryell - Spaces [1974]
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Larry Coryell - Toku Do [1988]
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Larry Coryell - Tricycles [2004]
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Larry Coryell & Alphonse Mouzon - Back Together Again [1977]
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Larry Coryell & Emily Remler - Together [1985]
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Larry Coryell & Philip Catherine - Twin House [1976]
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Larry Coryell & The Brubeck Bros [1978]
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Larry Coryell, Victor Bailey, Lenny White - Electric [2005]
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Stu Goldberg - Solos-Duos-Trio [1980]
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Gary Burton - A Genuine Tong Funeral [1967]
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Charles Mingus - Three Or Four Shades Of Blue [1977]
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Jack Walrath - Out Of The Tradition [1990]
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John Abercrombie, Badi Assad & Larry Coryell - Three Guitars [2002]
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Larry Coryell & the Eleventh House - Live at Montreux [1974]
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