Um bocado de psicodelia, com um tanto de mod, uma xícara de jovem guarda, um litro de tropicalismo, duas colheres de sopa de folk, mais um pouco disso e daquele outro, numa mistura de Beatles, Mutantes, Syd Barret (Pink Floyd), Tom Zé, Kinks, Caetano, Dylan, João Gilberto... Coloque tudo numa forma nascida em Porto Alegre, no dia 26 de janeiro, de 1968 e deixe amadurecer até os anos 90 do século XX da era cristã. O resultado é um ser inusitado chamado Jupter Apple, que já foi Júpiter Maçã, antes Woody Apple (Ops, não é parente meu não!), mas que foi batizado como Flávio Basso e hoje voltou a ser chamado de Júpiter Maçã. Tipinho estranho e metamórfico cujo trabalho musical (nas horas vagas ele, também, se aventura como cineasta) mistura todos os ingredientes citados acima, tendendo mais para um estilo ou para outro, sendo ora uma coisa, ora outra, ora nenhuma, nem outra. Complicado né? Neste caso a máxima de Tom Zé cabe muito bem: “eu to te explicado que é para te confundir, eu to te confundindo para te esclarecer”.
O nosso cítrico amigo tem história nas trilhas do rock gaúcho com passagem pelo TNT (anos 80) e no Cascavelletes (1987 – 1991). Depois disso, Flávio Basso adotou um estilo folk e saiu perambulando por ai sob a alcunha de Woody Apple, com violão e gaitinha no melhor estilo Bob Dylan. O Apple é uma referência aos Beatles influência marcante na sua formação musical. Já o Woody, eu não me lembro de ter lido ou ouvido alguma explicação dele a esse respeito, mas a julgar pelo estilo adotado só pode ser uma menção à Woody Guthrie (1912 - 1967), considerado um dos nomes mais importantes da folk music norte-americana e uma grande referência na música de Bob Dylan. Após essa breve incursão nesse universo folk, o nosso herói tira o Woody do nome e passa o Apple para o português, se intitulando Júpiter Maçã, gravando, em 1995, sua primeira demo com a banda Os Pereiras Azuis (futura Cachorro Grande). Essa demo já contava com futuro clássicos como “Lugar do Caralho”, regravada anos depois por Wander Wildner (Ex-Replicantes) e “Miss Lexotan 6mg Garota” que recebeu uma versão do Ira!.
Finalmente em 1997, ele lança seu primeiro disco solo, A Sétima Efervescência, que é calcado nos moldes de The Piper At The Gates Of Dawn, do Pink Floyd, com psicodelia e experimentação (e, por um leve momento, um prenúncio de sua obra ulterior, o final de "Sociedades Humanóides Fantásticas", uma bossa-nova psicodélica). As músicas desse disco são grandes referências do rock gaúcho. Contém algumas faixas fixadas no imaginário underground, como "Querida Superhist X Mr. Frog", "As Tortas e as Cucas", além das já citadas “Lugar do Caralho” e “Miss Lexotan 6mg Garota”. Após experimentar um relativo sucesso com o lançamento desse disco, torna-se Jupiter Apple, compõe em inglês, e decide misturar bossa-nova e vanguarda. Muitos fãs não o entenderam, preferindo a psicodelia "simples" do trabalho anterior. Essa mistura inusitada está muito bem feita no seu segundo disco, Plastic Soda (1999). Ele começa com uma canção de nove minutos, "A Lad And A Maid In The Bloom", que define o caráter inovador do disco.
Em 2002 é lançado Hisscivilization, o disco mais ambicioso (talvez incompreendido) de Jupiter Apple. Longas experimentações eletrônicas (destaque para "The Homeless And The Jet Boots Boy"), bossas elétricas e lounge, valsa, cítaras e MOOGs, condensados em momentos, ora de leveza, ora de paranóia. É seu disco mais hermético: se, para os que estavam acostumados com o rock and roll dos Cascavelletes, a Sétima Efervescência já era algo inesperado (psicodelia em doses cavalares), a reação causada pelos dois discos da fase Apple são ainda mais dramáticas. Em 2006 era esperado o lançamento do disco Uma Tarde Na Fruteira, que acabou saindo somente em 2007, com uma edição especial lançada na Espanha, aonde recebeu ótimas críticas. Nele, o Apple volta a ser Maçã, mas continua explorando o lado brasileiro e experimental, com músicas já eternizadas no subconsciente do underground porto-alegrense, como "A Marchinha Psicótica de Dr. Soup". Esse disco pode ser considerado o mais acessível do autor. De certa forma, tudo que já foi composto pelo Júpiter está resumido neste trabalho: desde canções mod sessentistas, levezas jazz, baladas domingueiras e “bob-dylantescas”, concretismos e timbres eletrônicos.
Ainda no ano passado, as músicas do Júpiter Maçã rechearam a trilha sonora de Wood & Stock - Sexo, Orégano e Rock’n Roll, animação em longa metragem do cartunista paulista Angeli. Ele também lançou o álbum Jupiter Apple & Bibmo, pela Monstros discos, de Goiânia, com participações especiais no mínimo lendárias de: Prego (da Pata de Elefante) e Márcio Petracco (dos Locomotores). Isso, mais o fato do lançamento no velho mundo, talvez ajudem a trazer essa Maçã para um lugar ainda mais ao sol, porque apesar de tudo, Júpiter continua orbitando pelo underground e merecia um destaque maior, apesar da sua música ser um tanto retrô, lembrando uma série de referências do passado, essa velha receita ainda é muito melhor que muita coisa nova que está rolando por aí, principalmente se falarmos em termos de rock nacional aonde, com raras exceções, impera um pop (muito mais que um rock) recheado de mediocridade e intenções meramente comerciais.
A parte cinza do texto foi retirada do Wikipédia.
Outras fontes: My Space, Whiplash, Trama Virtual e Elefant Records
JÚPITER MAÇÃ a.k.a JUPITER APPLE
Who is Júpiter Maçã? Where has this man come out from, a man who was only known until very recently by a very selected few in pop music's elite? The musical origins of this Brazilian filmmaker, multi-instrumentalist and composer take us back to the first half of the 90's, when he spawned a brief incursion in Dylan-esque territory under the moniker Woody Apple. He soon came back as Júpiter Maçã, his current name, with which he develops his personal version of a 60's inspired psychedelic sound in cult albums that don't cross the Brazilian borders, but do find an echo among an elite who whisper his name in each other's ears: among his following we find Tom Zé, Caetano Veloso, Arnaldo Baptista, Rita Lee, Sean Lennon, Tim Gane, Sean O'Hagan or Dean Wareham. A dream team of international good taste. "Uma tarde na fruteira" is Júpiter's fourth album, the firsy with an international distribution (now with his name in English), with which he will undoubtedly convince the rest of the world of the timeless beauty of his delicious modern Brazilian sound. The album is a complete revision of the history of the best Brazilian music, a mosaic formed by a thousand images and crafted with love, with care and with a deep knowledge of the subject. And not only soundwise, you know here at Elefant we consider the covers as an important part of the musical experience: the most illuminated have already spotted the obvious tribute designed Gregorio Soria has done on the cover to the records in the catalogue of exquisite Brazilian label Elenco (over fifty references, featuring classics by António Carlos Jobim, Sergio Mendes, Baden Powell or Roberto Menescal, all very enjoyable and with monocromatically gorgeous graphism). In such a beautiful envelope, JUPITER APPLE's actual sound takes us back, with its surrealistic, colourful imagery, to the most creative, explosive, exciting period in Brazilian music, the one going from the 50's to the 70's, the evolution that takes us from bossanova to MPB through Tropicalism. In his songs we find the same scents, the same colours and the same nostalgic yet optimistic exuberance that soaked the beloved recordings by OS MUTANTES, OS BRAÇOES, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé, Gal Costa... There's soft pop songs that remind you of the early Roberto Carlos, intimate bossanova à la Luiz Bonfa or Baden Powell, hedonistic easy listening to be filed with Sergio Mendes or Walter Wanderley, psychedelic pop and expanding symphonies that make you think of the best tropicalism or THE BEACH BOYS' "Pet sounds" and "Smiley smile". Pop art influenced histories, starred by beatniks, superheroes, bolshevists and tropical holidays, with the naïf bravery that made Brazilian experimental pop so daring and so artistically successful in its gold years. This is an album that could have been released in 1968, or in 1972. In 2007 it sounds as a delicious anacronism that, thanks to a special vision of a sound that was futuristic and original in its heyday, still sounds absolutely modern and different to anything else today. Who knows how has JUPITER APPLE managed to revive that old sound in such a faithful yet modern way (STEREOLAB, BROADCAST or Mike Alway would kill to have songs like "Menina Super Brasil" or "Act not surprised" in their repertoires... and for having the Brazilian blood run through their veins, a tradition that JUPITER APPLE has learnt from the cradle), because if there is a word to define this album, that is timeless: it sounds current, modern, but as if it had travelled in time; it jumps from one decade to the other, from past to future, and it makes us dream with times and sounds that have never existed or are still about to come.
From -> Elefant Records
Júpiter Maçã e os Pereiras Azuis - Demos [2007]
Esse disco eu descobri na internet como sendo a famosa demo gravada com Os Pereiras Azuis. Mas ouvindo mais atentamente se pode notar que as músicas vêm de mais de uma matriz e provavelmente são de épocas diferentes. Fica difícil dizer o que foi realmente gravado naquela época e o que veio depois. Procurei até cansar por maiores informações, mas não achei nada. No entanto e seleção de músicas é excelente formando um ótimo álbum, sendo assim achei que merecia uma capa legal e tratei de confeccioná-la. A foto em que aparece o Cachorro Grande(ex- Pereiras Azuis segundo a lenda) junto com o Júpiter foi uma montagem que fiz acreditando nas informações que encontrei.
Jupiter Apple - Plastic Soda [1999]
Trilha Sonora - Wood e Stock [2007]