domingo, 4 de janeiro de 2009

FREDDIE HUBBARD






Foi na passagem do ano que fiquei sabendo da morte de Freddie Hubbard, até então meu grande ídolo vivo do trompete. Certamente ele foi um dos maiores da história do jazz e agora está lá no além, engrossando o caldo de uma jam session ao lado de iguais como Miles Davis, Dizzy Gillespie, Lee Morgan e Chet Baker. Lembro-me quando Miles morreu em 28 de setembro de 1991, que me ocorreu o pensamento: “bom pelo menos Dizzy e Freddie ainda estão na área”. Mas em janeiro de 93 Dizzy se juntou a Miles, deixando Hubbard como o último dinossauro de uma geração fantástica do jazz. Ok, Nat Adderley ainda estava vivo, era um bom trompetista sem dúvida, mas eu não sei se o colocaria lado a lado com os nomes citados acima. Alguém aí pode alegar que, como consolo, temos Wynton Marsalis. Apesar de não fazer parte da mesma geração ou dos músicos que viveram aquela época, é um trompetista excelente, extremamente técnico e que interpreta muito bem o som daquele tempo. Pero no gusta! Porque a despeito das suas inegáveis qualidades eu acho que ele se mira muito no passado e projeta pouco para o futuro. Hubbard ganhou fama tocando com Art Blakey and the Jazz Messengers no início da década de 60 e, daí para frente, descambou para uma carreira brilhante gravando cerca de 100 discos por selos importantes como Blue Note, CTI, Columbia e Atlantic, e participou de mais de 300 ao lado de feras como Thelonious Monk, Miles Davis, John Coltrane, Herbie Hancock, Sonny Rollins, Eric Dolphy, Ornette Coleman e Cannonball Adderley, sendo agraciado com um Grammy em 1972 pelo disco First Light.

Famoso pela sua contribuição para o chamado "som Blue Note" da década de 60, Hubbard morreu aos 70 anos no dia 29 de Dezembro, em Los Angeles, vítima de complicações relacionadas a um ataque cardíaco que havia sofrido em Novembro. Foi-se o artista, mas sua obra permanece influenciando novas gerações de trompetistas, como bem lembrou o citado Wynton Marsalis em declaração à agência AP: "Ele influenciou todos os trompetistas seguintes. Claro que eu o ouvi muito. Todos ouvimos. Tinha um grande som e um grande sentido do ritmo e do tempo. A grande característica do seu estilo era a exuberância". Foi na época da Blue Note records que ele gravou com o grupo de Herbie Hancock a clássica “Cantaloupe Island”, do disco Empyrean Isles (1964), que o tornou bem popular, ainda mais quando o grupo britânico de hip-hop US3 regravou, 30 anos depois, levando a música para às rádios do mundo todo. Segundo Peter Keepnews, do The New York Times, Freddie Hubbard "maravilhava o público com o seu virtuosismo, seu sentido melódico e a sua energia contagiosa em simultâneo". Muitas vezes comparado a Miles Davis [ele chegou até a gravar discos com o quinteto de Miles - The Quintet (1976) e Live Under the Sky (1981)] , Hubbard nunca foi muito chegado às experimentações, fusões e essas coisas, procurando se manter fiel ao hard-bop. Mesmo assim, andou fazendo algumas incursões em outros campos, marcadas pela participação em três importantes discos da vanguarda do jazz nos anos 60: Free Jazz (1960), de Ornette Coleman, Out to Lunch! (1964), de Eric Dolphy, e Ascension (1965), de John Coltrane. Em 1995 ele recordou à revista Downbeat o seu encontro com Coltrane: "Encontrei o Trane numa jam session no clube do Count Basie no Harlem, em 1958. Ele disse-me 'Porque você não aparece lá em casa e vamos ensaiar um pouco juntos?' Quase que fiquei maluco. Ali estava um garoto de 20 anos a ensaiar com o John Coltrane. Ele ajudou-me muito e acabamos tocando várias vezes juntos". Também na década de 70, num processo de aproximação do mainstream. Freddie chegou a incluir em seus discos, instrumentos elétricos, ritmos funk e rock, arranjos para cordas e até canções fora do âmbito do jazz, aderindo à moda da fusão típica da década. Nessa época, gravou quatro discos antológicos pelos selos CTI e Columia: Red Clay (1970), Straight Life (1970), First Light (1971) e Sky Dive (1972). Passando para os anos 80 Hubbard retomou ao velho estilo, deixando essa coisa de fusão e experimentações meio de lado, seguiu tocando regularmente até 1992 quando uma séria lesão no lábio superior o impediu de tocar com a mesma regularidade de outrora. Mais detalhes sobre a vida de Freddie Hubbard no texto abaixo de autoria de V.A. Bezerra.
Fontes: All Music Guide, Wikepedia e texto publicado no Diário de Notícias de Portugal.


Frederick Dewayne Hubbard é o principal nome do trompete no jazz surgido depois de Miles Davis. Nascido no dia 7 de abril de 1938, em Indianápolis, tocou com os Montgomery Brothers. Mudou-se para Nova York em 1958. Em 1961 juntou-se aos Jazz Messengers de Art Blakey, com quem permaneceria até 1964. Depois tocou com Max Roach em 1965-66. A partir de 1966, passou a formar seus próprios quartetos e quintetos. Ao longo de quatro décadas, Hubbard tocou com alguns dos mais importantes nomes do jazz: além de Art Blakey e Max Roach, também com Eric Dolphy, Philly Joe Jones, Sonny Rollins, Slide Hampton, Jay Jay Johnson, Quincy Jones, Wayne Shorter e James Spaulding, entre outros. A partir de 1976 participou do grupo V.S.O.P. de Herbie Hancock, uma reedição do quinteto de Miles Davis dos anos 60, formado por Hancock, Ron Carter, Tony Williams, Wayne Shorter e com Hubbard ao trompete, ocupando o lugar que fora do próprio Miles. Nos anos 70, tendo assinado com a Columbia, sua música atravessou uma fase fusion / latin jazz de caráter mais comercial. Nos anos 80, voltou a tocar no estilo mais hardbop com alguns de seus antigos colegas.

É importante notar que Hubbard esteve presente em gravações históricas do jazz de vanguarda: em Free Jazz (1960), fazendo parte do revolucionário quarteto duplo liderado por Ornette Coleman e Don Cherry; em Ascension (1965), talvez a obra máxima de John Coltrane; em Out to Lunch (1964), o testamento de Eric Dolphy; e em Blues and the Abstract Truth (1961), de Oliver Nelson. O próprio Hubbard estima que tenha tocado em cerca de 300 discos ao longo de toda a carreira.

Hubbard foi ocasionalmente comparado com Miles Davis, talvez por sua qualidade técnica e sua posição de liderança na cena do trompete moderno; porém seu som e sua abordagem são fundamentalmente diferentes. O som de Hubbard é mais encorpado, com um belo timbre tanto ao trompete como ao flugelhorn, saindo-se extremamente bem tanto no registro agudo como no grave. Seu fraseado é mais agressivo e talvez menos introspectivo que o de Miles Davis, o que não o impede de tocar com propriedade também as peças de maior lirismo. É um grande improvisador, capaz de longos solos, onde nunca falta imaginação. Versátil, transitou por vários estilos. Inúmeras vezes já se pôde comprovar que basta o trompete de Freddie entrar em cena para conferir credibilidade musical até mesmo aos contextos mais comerciais (e lembremos que ele chegou a gravar até com acompanhamento drum’n’bass, por exemplo em Times Are Changing). Mas, no fundo, Freddie Hubbard nunca deixou de ser o grande solista Hard Bop por excelência.

Certa vez, em 1974, Freddie resumiu em termos bastante diretos toda essa vida de trabalho dedicada ao jazz: “Um monte de caras jovens [young cats] vêm me perguntar como é que eles podem se virar tocando esse tipo de música. Eu digo a eles que tive que andar junto com os caras certos [the right cats], ler a música deles, ensaiar, tocar tipos diferentes tipos de música, coisas que eu nem queria tocar, enfim, tudo isso acabaria me ajudando a me transformar naquilo que eu sou hoje”.

Mais recentemente, em meados dos anos 90, Freddie esteve às voltas com problemas de saúde. Acometeu-o um problema comum aos trompetistas: seu lábio ficou gravemente danificado devido ao constante esforço de soprar. Isso o fez interromper uma carreira que, embora longa e muito produtiva, estava no auge da criatividade e ainda poderia se prolongar por um bom tempo.

Fonte:
E-Jazz







Frederick Dewayne Hubbard (7 April 1938 – 29 December 2008) was an American jazz trumpeter. He was known primarily for playing in the bebop, hard bop and post bop styles from the early 60s and on. His unmistakable and influential tone contributed to new perspectives for modern jazz and bebop.

Hubbard started playing the mellophone and trumpet in his school band, studying at the Jordan Conservatory with the principal trumpeter of the Indianapolis Symphony Orchestra. In his teens Hubbard worked locally with brothers Wes and Monk Montgomery and worked with bassist Larry Ridley and saxophonist James Spaulding. In 1958, at the age of 20, he moved to New York, and began playing with some of the best jazz players of the era, including Philly Joe Jones, Sonny Rollins, Slide Hampton, Eric Dolphy , J. J. Johnson, and Quincy Jones. In June 1960 Hubbard made his first record as a leader, Open Sesame, with saxophonist Tina Brooks, pianist McCoy Tyner, bassist Sam Jones, and drummer Clifford Jarvis.

In December 1960 Hubbard was invited to play on Ornette Coleman's Free Jazz: A Collective Improvisation after Coleman had heard him playing with Don Cherry.Then in May 1961, Hubbard played on Olé Coltrane, John Coltrane's final recording session with Atlantic Records. Together with Eric Dolphy, Hubbard was the only 'session' musician who appeared on both Olé and Africa/Brass, Coltrane's first album with ABC/Impulse! Later, in August 1961, Hubbard made one of his most famous records, Ready for Freddie, which was also his first collaboration with saxophonist Wayne Shorter. Hubbard would join Shorter later in 1961 when he replaced Lee Morgan in Art Blakey's Jazz Messengers. He played on several Blakey recordings, including Caravan, Ugetsu, Mosaic, and Free For All. Hubbard remained with Blakey until 1966, leaving to form the first of several small groups of his own, which featured, among others, pianist Kenny Barron and drummer Louis Hayes.

It was during this time that he began to develop his own sound, distancing himself from the early influences of Clifford Brown and Morgan, and won the Downbeat jazz magazine "New Star" award on trumpet. Throughout the 1960s Hubbard played as a sideman on some of the most important albums from that era, including, Oliver Nelson's The Blues and the Abstract Truth, Eric Dolphy's Out to Lunch, Herbie Hancock's Maiden Voyage, and Wayne Shorter's Speak No Evil. He recorded extensively for Blue Note Records in the 1960s: eight albums as a bandleader, and twenty-eight as a sideman. Hubbard was described as "the most brilliant trumpeter of a generation of musicians who stand with one foot in 'tonal' jazz and the other in the atonal camp"; though he never fully embraced the free jazz of the '60s, he appeared on two of its landmark albums: Coleman's "Free Jazz" and Coltrane's Ascension.

Hubbard achieved his greatest popular success in the 1970s with a series of albums for Creed Taylor and his record label CTI Records, overshadowing Stanley Turrentine, Hubert Laws, and George Benson. Although his early 1970s jazz albums Red Clay, First Light, Straight Life, and Sky Dive were particularly well received and considered among his best work, the albums he recorded later in the decade were attacked by critics for their commercialism. First Light won a 1972 Grammy Award and included pianists Herbie Hancock and Richard Wyands, guitarists Eric Gale and George Benson, bassist Ron Carter, drummer Jack DeJohnette, and percussionist Airto Moreira. In 1994, Freddie, collaborating with Chicago jazz vocalist/co-writer Catherine Whitney, had lyrics set to the music of First Light.

Columbia's VSOP: The Quintet, album was recorded from two live performances, one at the Hearst Greek Theatre, University of California, Berkeley, on July 16, 1977, the other at the San Diego Civic Theatre, July 18, 1977. Musicians joining the trumpeter for this landmark performance were the members of the mid-sixties line-up of the Miles Davis Quintet (except the leader): Herbie Hancock on keyboards, Tony Williams on drums, Ron Carter on bass, and Wayne Shorter on tenor and soprano saxophones. Hubbard's trumpet playing was featured on the track Zanzibar, on the 1978 Billy Joel album 52nd Street (the 1979 Grammy Award Winner for Best Album). The track ends with a fade during Hubbard's performance. An "unfaded" version was released on the 2004 Billy Joel box set My Lives.

In the 1980s Hubbard was again leading his own jazz group, attracting very favorable notices for his playing at concerts and festivals in the USA and Europe, often in the company of Joe Henderson, playing a repertory of hard-bop and modal-jazz pieces. Hubbard played at the legendary Monterey Jazz Festival in 1980 and in 1989 (with Bobby Hutcherson). He played with Woody Shaw, recording with him in 1985, and two years later recorded Stardust with Benny Golson. In 1988 he teamed up once more with Blakey at an engagement in Holland, from which came Feel the Wind. In 1990 he appeared in Japan headlining an American-Japanese concert package which also featured Elvin Jones, Sonny Fortune, pianists George Duke and Benny Green, bass players Ron Carter, and Rufus Reid, with jazz and popular music singer Salena Jones. He also performed at the Warsaw Jazz Festival at which Live at the Warsaw Jazz Festival (Jazzmen 1992) was recorded.

Following a long setback of health problems and a serious lip injury in 1992 where he ruptured his upper lip and subsequently developed an infection, Hubbard was again playing and recording occasionally, even if not at the high level that he set for himself during his earlier career. His best records ranked with the finest in his field. In 2006, The National Endowment for the Arts honored Hubbard with its highest honor in jazz, the NEA Jazz Masters Award. On December 29, 2008, Hubbard's hometown newspaper, The Indianapolis Star reported that Hubbard died from complications from a heart attack suffered on November 26 of the same year. Billboard magazine reported that Hubbard died in Sherman Oaks, California.
From: Wikipedia



10 comentários:

  1. Uma grande perda, sem dúvida. Tenho ainda em vinil o 'Straight Life' e o 'First Light' e são d+. Estavam na minha mira pra baixar mas agora não preciso mais me preocupar em correr atrás.
    RIP
    []ões

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  2. Edson,
    Straight Life e First Light são realmente muito bons, os outros discos da CTI (Red Clay, Polar AC e Sky Dive) seguem a mesma linha e também contam com George Benson e Ron Carter (tem tb o Keep Your Soul Together, mas esse é sem o Benson). Como eu já tinha postado os que vc citou (que são os melhores), não postei esses, mas se te interessar posso descolar p vc. A fase da Blue Note é mais clássica, mas excelente tb, representada aqui pelo Blue Print e o Out to Lunch do Eric Dolphy (esse é meio free). Outra grande pedida é o The Griffith Park Collection. Na verdade todos os discos postados são ótimos, porque o cara gravou mais de 300 discos e numa seleção de uns 30 que eu tenho, acabei separando 16, depois me toquei que eram discos demais e postei só esses 9. De modo que vc pode encarar isso como uma espécie de the best of woody's collection. Heheheh!

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  3. Fala Buddy Woody o indulto d natal naum saiu, falaram q eu naum tava m comportando direito, agora tudo bem.

    Feliz natal e um fósforo, ops, próspero ano novo, buddy Woody!

    Abraços, Miguel,o verdadeiro

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  4. Tá meio atrasadão né? Pro natal então já tem 11 dias, mas tá valendo!

    O mesmo p vc tb.
    WOODY

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  5. Out to Lunch é pros MUITO inciados, Woody. Pra mim...tô fora. Vi e li um monte sobre o album que mudou a história do Jazz, baixei o Eric Dolphy, cheio de desejo, sem saber do caráter experimental do álbum e abando nei num dos meus MP3 de arquivo... não vou dizer pra nunca mais, mas acho muito difícil q um dia vá ouvir com prazer esse álbum.
    Já Griffin Park tenho o LP até hoje. Um dos poucos q conservei. Agora, vou consultar meus aqquivos e ver com qual dos teus FH começo.
    Abraço!

    Ps.: vc gosta de zoar, agora vou responder na mesma pratinha: finalmente, hein! um legítimo Off Rock&Roll. Deimonriu!

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  6. Off Rock&Roll!?!?!
    Se vc está se referindo ao fato de Freddie Hubbard não estar associado ao R'n'R. Bem... Já postei coisas fora dessa área, ou vc acha Hiromi Uehara R'n'R? Mas devo concordar que sou bem ligado nesse tal de R'n'R.
    Gosto do Out to Lunch, mas se vc achou free demais para o seu gosto, não passe nem perto do John Coltrane - Ascension. Creio que ao seu estilo estão Born To Be Blue, V.S.O.P., Blue Spirits que são bem clássicos. Eu adoro The Griffith Park Collection, é mais "modernoso", mas pode te agradar tb, aliás, gosto de todos, no entanto, Coltrane tem coisas mais legais q Ascension.

    Abraço,
    WOODY

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  7. Just stopped by to say hey! Great Freddie post Woody!

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  8. HI Mr. Silent!

    Nice to see you.
    Thanks for the comment.

    Best Wishes,
    WOODY

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